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Este painel será espaço de discussão epistemológica do fazer Antropologia Biológica (AB) em contextos flúidos na atualidade. A Antropologia sempre partilhou o seu paradigma com outras ciências, tocando em temas muitas vezes considerados propriedade intelectual de outros ramos científicos – muitos destes em áreas opostas.
As interfaces com a Anatomia, Genética, História, Odontologia, Primatologia, Ecologia, são alguns exemplos do leque de simbioses que se geram durante a investigação em AB, e não raras as vezes o bioantropologo vê-se na incumbência de assimilar as premissas de ciências simbióticas, abordando os vestígios biológicos humanos com uma leitura ampla e completa.
A colaboração inter/multidisciplinar é essencial para desvelar a complexa interação entre Biologia e Cultura, no entendimento do outro no presente e no passado.
Não obstante a deriva natural do paradigma científico ao longo do tempo, típica de qualquer ciência, a mudança na AB deu-se em parte pela evolução de ciências complementares, alterando-se o potencial informativo que as cooperações entre elas passaram a oferecer.
Esta evolução é ainda dependente do modus operandis das sociedades de cada país, e como estes fazem a gestão das questões científicas. O fazer ciência trespassa fronteiras geográficas e é influenciado não só pelas correntes académicas, mas também pela gestão política e social, sendo reflexo de como as sociedades constroem a sua identidade.
Este painel pretende mostrar os diferentes campos de atuação da AB destacando o seu amadurecimento científico no tempo, as diferenças geográficas na gestão da recuperação de vestígios biológicos humanos, as metodologias e premissas escolásticas abordadas, e com que finalidade os trabalhos são usados. Pretende ainda expor os resultados da cooperação interdisciplinar, e como o avanço das diferentes áreas científicas influencia os resultados na compreensão da história e evolução humanas.
A Antropologia Biológica oferece uma diversificada perspetiva sobre dinâmicas humanas, reforçando a importância de um entendimento geográfico, temporal e disciplinar na abordagem das complexidades à sua experiência. Este painel representa uma oportunidade no reforço desses laços, promovendo diálogos interdisciplinares, e transfronteiriços, atraindo propostas de investigadores de diversos países, onde estes possam expor as suas pesquisas num espaço construtivo de discussão científica.
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O pan-africanismo data do início do século XX, mas suas ideias já estavam embrionadas nas lutas pelo fim da escravidão e do colonialismo, em África e na diáspora. Foi ao longo do século passado, no entanto, que o continente africano passou por profundas transformações, que incluíram os processos de independência e emancipação política, em grande medida impulsionados pelo movimento pan-africanista.
A partir do I Congresso Pan-Africano, em 1900, organizado em Trinidad por Sylvester Williams e DuBois, o movimento ganhou contornos de defesa legais dos negros contra abusos e exploração. Anos mais tarde, com George Padmore e Kwame Nkrumah à frente de demandas que culminaram no V Congresso Pan-Africanista de Manchester, em 1945, a independência dos povos africanos colonizados foi pauta central. Entre o final dos anos 1950 e a década de 1960, a defesa da unidade dos estados africanos contra o neocolonialismo ocupou o cerne das discussões.
Nesse contexto, importantes encontros foram organizados, como os congressos de Tunis, Roma e Dar-es-Salaam, marcando relações ora de alianças, ora de contradições entre o nacionalismo e o internacionalismo do movimento. De todo modo, o pan-africanismo congregou importantes intelectuais de diversas nações que influenciaram movimentos anticoloniais que culminaram na independência dos estados africanos, como Mario Pinto de Andrade e Franz Fanon.
Neste painel, acolheremos comunicações de teor etnográfico, teórico e/ou histórico que abordem aspectos políticos, biográficos, conceituais, literários, analíticos e simbólicos, especialmente no que concerne à formação dos movimentos nacionalistas anticoloniais, às conformações de identidades nacionais e/ou pan-africanas, às configurações regionais de poder, às trajetórias de lideranças políticas, às construções de alianças e de relações estabelecidas pelos encontros, dentre outros assuntos correlatos.
Na Antropologia, estudos sobre como memória, história e políticas reverberam na contemporaneidade dos Estados africanos têm se complexificado, abarcando diferentes narrativas, atores e espaços. O objetivo aqui é articular pesquisas dedicadas às temáticas do colonialismo/pós-colonialismo, à luz das relações construídas a partir / através dos encontros e da produção intelectual do período. No limite, trata-se de percorrer as “Itinerâncias”, congregando as dinâmicas antropológicas aos desafios de encontrar lastros históricos e relacioná-los às análises dos desdobramentos do pan-africanismo atrelado ao pós-colonialismo.
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Os debates sobre o curso da vida em seus distintos momentos - como a infância, pré-adolescência, adolescência, juventude, vida adulta, meia-idade, velhice -, assim como as suas transições, relações intergeracionais e pertencimentos identitários, são tema deste Painel. As relações entre as diferentes etapas do curso da vida animam a antropologia com debates sobre, por exemplo, a necessidade de cuidados e interdependência geracional, os diferentes manejos do parentesco e dos sentidos de obrigação intergeracional, e, ainda, circuitos intergeracionais de desejo, afeto, conflitos e violência. O curso da vida, ainda, pode representar uma circunscrição populacional que organiza políticas públicas e reserva de recursos com base em dados demográficos e máximas morais acerca de qual população merece investimento. Figuram, no discurso público, expressões como “país jovem”, “investimento na juventude”, “envelhecimento populacional acelerado”, “país de velhos”, “necessidade de um novo acordo intergeracional”. Essas expressões moldam debates políticos e morais, influenciando desde a alocação de recursos até percepções de justiça social e responsabilidade coletiva. A experiência e os discursos sobre o curso da vida, contudo, não são monolíticos, são compostos por camadas de pertencimentos de gênero, raça, classe, sexualidade, etnicidade, corporalidades, deficiências, local de moradia, religião, status de saúde, entre outros. A heterogeneidade do curso de vida pede por análises interseccionais, que atentem para nuances etnográficas dos discursos, dos pertencimentos e dos conflitos intergeracionais. Neste sentido, convidamos para submeterem a esse GT etnografias que investiguem o curso da vida em suas mais diversas facetas e heterogeneidades, com especial atenção às abordagens teóricas, epistemológicas e metodológicas que priorizem as interseccionalidades, o cuidado e as redes de apoio social. São bem vindos trabalhos desenvolvidos em diversos contextos, especialmente os ibero-americanos, assim como os de contextos africanos e asiáticos, sobretudo lusófonos e hispanohablantes.
Palavras-Chave: Envelhecimentos; Curso da Vida; Interseccionalidades; Marcadores Sociais das Diferenças; Cuidado
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O cuidado manifesta-se de múltiplas formas, através de diversos atores sociais e em variados contextos, constituindo um elemento essencial do quotidiano. Enquanto conceito, o cuidado conta com uma longa e rica tradição nas Ciências Sociais, tendo sido amplamente aplicado em áreas como os estudos feministas, de género, sobre saúde e doença, e acerca de políticas públicas e sociais (Davies 1995; James 1992; Thomas 1993). À semelhança de outras categorias analíticas, o cuidado é complexo e suscita questões sobre os seus limites e âmbito de aplicação (Daly e Lewis 2000; Phillips 2007; Reverby 1987; Tronto 2013).
A presença constante do cuidado nas relações interpessoais e nas estruturas sociais, assim como a sua natureza aparentemente fluida e intuitiva, desafiam os investigadores na sua identificação, análise e valorização (Barnes 2012). Marian Barnes (2012) destaca que o cuidado desempenha várias funções: permite conceptualizar relações pessoais e sociais; incorpora valores e princípios morais; e constitui uma prática concreta, com relevância enquanto objeto de estudo. Para compreender plenamente as manifestações de cuidado, o investigador necessita de uma abordagem que combine objetividade e abstração, procurando entender as suas dimensões emocionais, organizacionais e laborais (James 1992).
Este painel tem como objetivo estimular o debate e a reflexão em torno das diversas dimensões teóricas, metodológicas, éticas e práticas associadas ao conceito de cuidado na investigação em Ciências Sociais. Ao destacar o cuidado como um tópico central, pretende-se expandir o entendimento das suas expressões e dos seus efeitos sociais. Convidam-se propostas que, de forma direta ou indireta, abordem o cuidado enquanto objeto de pesquisa, contribuindo para o avanço da sua análise e para a compreensão das suas repercussões em contextos de vulnerabilidade, apoio social, saúde e bem-estar.
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Este trabalho explora a importância das fotografias na documentação e registro do patrimônio imaterial, bem como seu papel essencial na divulgação e valorização das práticas culturais de diferentes grupos. A pesquisa analisa como as imagens fotográficas atuam como ferramentas para construir e representar o patrimônio cultural, questionando como essas imagens moldam a percepção sobre o que constitui esse patrimônio. Também é abordada a lacuna no uso das fotografias como ferramenta para a preservação do patrimônio imaterial, investigando como elas podem ser aplicadas em políticas públicas voltadas à proteção e valorização das manifestações culturais. Os principais objetivos da pesquisa incluem identificar o papel das fotografias nas narrativas de preservação cultural, analisar sua função etnográfica no contexto patrimonial e examinar como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) utiliza imagens fotográficas em suas publicações e materiais de divulgação. A partir de uma abordagem etnográfica, o estudo analisa a metodologia antropológica aplicada na seleção de arquivos e imagens, propondo ainda métodos para a utilização eficaz das fotografias na documentação patrimonial. O uso das imagens como estratégia narrativa é discutido, especialmente no que se refere à construção de memórias coletivas e ao registro visual do patrimônio imaterial. Exemplos como os registros do povo Wajãpi e da Roda de Capoeira, presentes nos arquivos do IPHAN, ilustram como as narrativas culturais podem ser construídas e preservadas por meio das fotografias. O estudo reforça a importância de políticas públicas que considerem as imagens fotográficas como ferramentas centrais na preservação e valorização das culturas tradicionais, destacando o valor epistemológico das fotografias no processo de reconhecimento e salvaguarda do patrimônio imaterial.
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A proposta do painel é seguir uma epistemologia “contracolonialista” conforme a orientação de Antônio Bispo dos Santos (2023), na qual pesquisadores indígenas ou não indígenas elejam os pontos importantes a serem destacados na tentativa de desconstruir os efeitos do colonialismo que expropriou territórios, modos de vidas e mentes. A proposta de educação circular que integre diferentes gerações numa biointeração com o território é uma maneira para que os povos indígenas e não indígenas reconheçam que os saberes ancestrais possam ser configurados em distintas formas de patrimônio. E fundamentalmente para que as crianças indígenas possam cultuar seus ancestrais com orgulho e isso possa fortalecer a autoestima do grupo e positivar identidades. Em consonância com os Direitos Humanos no combate ao racismo, preconceito e desigualdades sociais, a proposta de registrar saberes e experiências de anciãos e as memórias de jovens de etnias variadas intenciona contribuir com a valorização e visibilização de trajetórias de vida que muitas vezes foram relegadas ao ostracismo ou foram narradas pelo viés etnocêntrico dos não indígenas. A publicização do material coligido pretende contribuir com os povos originários e também educar os não indígenas sobre a relevância dos modos de conhecimento e dignidade destes povos. O compartilhamento destes saberes poderá contribuir para a educação de não indígenas, conforme a premissa da Lei 11.645 de 10 de março de 2008, na tentativa de abordar com respeito e dignidade os modos de vida dos povos originários.
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When, in 2020, the Research Group on Anthropology in Primary and Secondary Education (GPAEB/CNPq) began organizing a series of activities, including working groups, roundtables, and academic publications about the experiences and challenges faced by anthropologists working in pre-university education in Brazil, we had little to no information about similar endeavours worldwide. As we have developed international connections and academic exchanges with professionals from different countries, we discovered that many initiatives focusing on pre-university had been carried out over the past years, some more successful than others. Dedicated to advancing the understanding of the challenges and potential of pre-university anthropology education and pointing towards future actions, this panel aims to bring together presentations that can contribute to a broader reflection on the role of anthropology as a field of knowledge and pedagogical practice in general pre-university education. We invite teachers, researchers, students, and the general community to present papers focused on experiences of teaching practice of anthropology, professional expectations, and their articulation with different spaces of socialization and learning in the context of pre-university education.
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Un grupo de partes interesadas se reunió en junio de 2023 en Sevilla y estableció un “Manifiesto para una Antropología sobre Cambio Climático". Este documento destaca la urgencia de abordar la crisis climática, que no solo implica un aumento de temperaturas, sino que también amenaza los sistemas socio-ecológicos y los derechos humanos, como el derecho a la vida, agua, energía y alimentación. Se enfatiza que los cambios climáticos son un desafío global que requiere soluciones locales, y se aboga por la integración del conocimiento científico y tecnológico con el conocimiento ecológico, también tradicional, de comunidades indígenas y locales. El manifiesto subraya que los grupos más vulnerables, como poblaciones de bajos ingresos, migrantes, y comunidades indígenas, son los más afectados por los efectos del cambio climático, lo que también conlleva pérdidas culturales y territoriales. La antropología tiene un papel crucial en la discusión sobre sostenibilidad y crisis ecológicas, al abordar desigualdades sociales y promover el diálogo entre diferentes formas de conocimiento. Se hace un llamado a los gobiernos para que implementen políticas valientes y efectivas, garantizando recursos para la investigación y la educación. Además, se propone que las recomendaciones de la comunidad científica se conviertan en objetivos vinculantes, con mecanismos que aseguren la participación de la ciudadanía. El manifiesto concluye que la crisis climática es una oportunidad para repensar nuestras relaciones con el entorno y fomentar la justicia social y ambiental, rechazando el negacionismo y la desinformación. En este sentido, este panel invita al debate y a la reflexión sobre el cambio climático, a partir de trabajos etnográficos y/o coparticipativos que permitan tanto operativizar este manifiesto como contribuir al actual debate epistémico entre antropología y clima.
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In our recent co-edited book volumes (Yarris and Duncan 2025; Rosales, Johnson, and Roedlach 2024), we outline an anthropology of accompaniment as a way of aligning ourselves ethically, politically, and as an act of solidarity and care with immigrant, migrant, and refugee communities. Our approach grounds accompaniment in anthropologies of care, Latin American liberation theologies, and feminist care ethics, alongside decolonial turns in the social sciences. From these various traditions and influences, we approach accompaniment as a mode of ethnographic engagement, an ethical and political alignment, as well as an invitation for considering anthropological writing and other forms of representation about our work with immigrant, refugee, and asylum seeker communities. Our two volumes draw together anthropologists, sociologists, activists, and others working in Australia, Canada, Hungary, and the United States and with Latin American migrants in diaspora, refugees, and Indigenous groups. In this session, we seek to broaden the conversation in order to consider how accompaniment can be part of an ethnographic, ontological, and political praxis for anthropologists of im/migration in wider global contexts. Questions we may collectively consider include: How does accompaniment build on existing anthropological approaches, including applied anthropology, medical anthropology, feminist anthropology, anthropologies of religion, and activist anthropology? What are some of the ways accompaniment might shift our ethnographic attention and encourage us to reconsider other, non-traditional, ways of writing and representing our ethnographic work for broader public audiences? What are some of the troubles and tensions with accompaniment approaches; namely, in regards to the risk of reinforcing inequitable relations of power and/or the challenges of sustaining accompaniment work within the institutional constraints of academia? We welcome contributors to the panel who would like to engage in conversation around these and other questions for an anthropology of accompaniment.
In person Panel
The global proliferation of cosmetic products, treatments, and procedures—becoming more sophisticated, less invasive, and more affordable—along with the normalization of body modification practices, has facilitated dynamic interactions among diverse visual cultures and aesthetics. This panel invites scholars and researchers from anthropology and related fields to examine the evolving cultural, social, and symbolic meanings of body modifications, tracing their transformation from marginal, subcultural expressions—or alternatively, elitist and exclusive cosmetic practices—to widely accepted mainstream phenomena. We also seek to understand the transnational pathways these practices navigate across different societies and communities.
Once regarded as extreme, deviant, or simply exclusive and out of reach for most, many forms of body modification have gradually entered the realm of popular culture.
We welcome papers that examine how modified bodies negotiate power, agency, and identity across varied contexts and that explore the following questions:
• In what ways do body modifications intersect with issues of identity, agency, and self-expression, particularly in relation to gender, race, class, age, and sexuality?
• What power structures influence the decision to modify one’s body, and how do these structures vary across different cultural settings?
• How do media, fashion, and celebrity culture shape contemporary perceptions of body image and influence the normalization of body modifications?
• What role do media, advertising, and digital platforms play in normalizing or exoticizing certain forms of body alteration?
• How do individuals emotionally experience their physical appearance, navigate the gaze of others, and decide to transform, reshape, or reinvent their bodies?
• How has the medicalization of certain aesthetic practices impacted the boundaries between "cosmetic" and "necessary" body modifications?
• What are the ethical implications of emerging technologies in body modification, such as gene editing, biohacking, and the use of AI in cosmetic enhancements?
• How do global trends in aesthetic ideals interact with local, traditional, or indigenous practices of body modification?
We encourage submissions that consider a variety of body modification practices, including but not limited to tattooing, piercing, cosmetic surgery, non-surgical aesthetic treatments, and digital or virtual body modification.
We welcome both theoretical and empirical papers (PT and EN) that offer fresh perspectives on these topics.
In person Panel
The construction of nation-states in Latin America and the Caribbean and their meta-narratives of national identity have been configured based on a systematic policy of de-memorialisation through models of education, citizenship, land-use plans, colonial notions of ‘heritage’, policies for the imposition of colonial languages as well as racialized models of urban organization.
Nevertheless, since the second half of the twentieth century, the voices of those groups that were historically marginalized have risen ever louder, revealing the alternative histories and trajectories that exist and resist between the cracks of hegemonic discourses. The engagement of political movements, combined with intellectual debates such as the interpretive turn, the questioning of ethnographic authority, the development of new ways of approaching archives and the rethinking of ethnographic museums, have paved the way for important reflections on the processes of knowledge production.
In this panel we are interested in discussing ethnographic experiences with Afro-Descendant and Indigenous collectivities that have re-appropriated public spaces such as historical archives, museum collections, and monuments through the exercise of self-representation and the subversion of national and historical narratives.
Contributions are warmly invited that wish to reflect anthropologically on family and community heritages (archives, artifacts, places, oral traditions, etc.) which subaltern groups are using to re-imagine their past and their future, as well as those that provide space for methodological reflections useful for challenging the role of researchers and thinking about concrete strategies that enhance and give visibility to the collective actions of the communities involved in the struggle for their civil and political rights.
In person Panel
Neste painel propomos reunir experiências etnográficas com os povos indígenas, povos de terreiro, quilombolas, ribeirinhos entre outros que, na definição de Ailton Krenak em seu livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, escolheram permanecer “agarrados nessa terra”. Para muitos desses povos, as noções de território e de corpo são indissociáveis e se implicam mutuamente. Pretendemos refletir, a partir de uma perspectiva etnográfica, sobre as noções de corpo-território formuladas por esses povos em diferentes contextos. Levando em conta a proposta temática do congresso que nos instiga a pensar diferentes modos de atuação frente às crises climáticas a partir de um debate sobre as 'itinerâncias' vistas sob a ótica da Antropologia, nos perguntamos em que medida colocar em diálogo diferentes éticas ecológicas implica considerar diferentes ontologias. Como a noção de “corpo-território” pode ser tomada como um modo de existência e como uma proposição política diante das crises ecológicas? Em que medida as estratégias criadas por esses povos para atravessar mundos perigosos não indicaria que o perigo está justamente nas possibilidades de cruzamento dos mundos, na recusa de um mundo comum a todos os viventes? Pretendemos assim reunir trabalhos etnográficos que abordem as noções de corpo e de território e seus desdobramentos para refletir sobre estratégias e modos de vivenciar crises climáticas.
Palavras-chave: Terra; corpo; território; afro; indígena.
In person Panel
Este painel explora como as práticas de mobilidade, tanto física quanto conceptual, moldam a escrita etnográfica. Partimos da ideia de que a própria escrita etnográfica é, em si, um processo itinerante. Desde a transposição das experiências de campo para o papel até às sucessivas reconfigurações e revisões que o texto atravessa, a escrita etnográfica desenvolve-se através de deslocações e desvios. O painel concentra-se nas dinâmicas de movimento que informam e transformam a produção textual.
Pretendemos discutir como as experiências de mobilidade e os encontros com o movimento são traduzidos em texto etnográfico, levantando questões como: de que forma a experiência corporal de itinerância – tanto da/o antropóloga/o como dos restantes sujeitos do estudo – molda a descrição etnográfica? Em que medida a circulação de conceitos e teorias, oriundos de outros estudos ou apreendidos durante o trabalho de campo, influencia a construção etnográfica?
Entre os temas a abordar estão:
- O papel do corpo em movimento na construção de descrições e argumentos etnográficos;
- Como a dimensão espacial e temporal da pesquisa etnográfica se entrelaça com o acto de escrever;
- A escrita das pequenas mobilidades do quotidiano, como interações em transportes públicos ou deslocações locais, e o impacto destes movimentos na narrativa antropológica;
- Como as trocas entre colegas, revisores e interlocutores transformam e influenciam a (re)escrita do texto etnográfico;
- Como as mudanças e transformações políticas e sociais no terreno etnográfico sugerem e influenciam reconceptualizações teóricas;
- Como os textos etnográficos se adaptam a audiências diversas, académicas e não-académicas, envolvendo traduções de linguagem, formato e acessibilidade;
- Práticas de escrita itinerante: discutir diferentes métodos de escrita que incorporam a itinerância, considerando como a forma de escrever pode reflectir o movimento.
Este painel convida-nos a pensar sobre a natureza itinerante, transformativa e transformadora da escrita etnográfica, não apenas como reflexo da mobilidade no campo ou entre o campo e a secretária, mas também como um processo contínuo de transformação textual.
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Com este painel pretendemos criar espaço para apresentação, reflexão e discussão de trabalhos que, com foco particular, mas não exclusivo, na Antropologia Social e Cultural, articulem questões relacionadas com envelhecimento e alimentação. Interessa-nos explorar e debater de que forma tanto conceções sobre os alimentos como experiências alimentares, na sua diversidade de práticas (resultantes ou não de escolhas individuais), têm efeitos nesse processo corporal/individual/social/relacional que é o do envelhecimento.
Correspondendo a uma experiência que na aparência é profundamente individual, muito embora só revele toda a sua densidade quando considerada nos processos sociais em que se funda, o processo de envelhecimento é frequentemente acompanhado por mudanças de hábitos e adaptações a novos contextos e novas condições físicas, sociais e ambientais. O modo como este processo ocorre é substancialmente marcado e mediado por práticas alimentares que reportam ao cruzamento de sistemas ambientais e socioculturais, com base nos quais se geram práticas de inclusão e de exclusão, bem como de maior ou menor exposição dos mais velhos a situações de vulnerabilidade. É esta a base do desafio que propomos: olhar de forma crítica o fenómeno do envelhecimento, tão marcante nas sociedades contemporâneas europeias, mas não apenas nestas, tendo por base as conceções, perceções e práticas alimentares dos mais velhos.
São bem-vindas propostas que, atendendo ao modo como processos históricos, económicos, ambientais, políticos, individuais, sociais e culturais condicionam os modos de envelhecer, procurem refletir sobre como as experiências alimentares constituem um lugar privilegiado para analisar fenómenos como as diferentes formas de desigualdade social e o modo como estas são reforçadas pela intersecção de fatores como classe, género ou raça. Interessa-nos também, neste âmbito, analisar questões relacionadas com os contextos socioculturais e ambientais, as políticas públicas, as redes de apoio, a (in)segurança e sustentabilidade alimentares, as competências e capacidades de cuidado e autocuidado, o isolamento social e a solidão, a perceção sobre os alimentos e as preferências alimentares, o gosto e o sabor, os critérios de escolha e seleção de alimentos, as rotinas de aquisição e consumo alimentares, as adaptações alimentares, ou as memórias e rituais alimentares.
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Num mundo multicultural, globalizado e de intensos fluxos humanos, a forma como nos alimentamos, partilhamos e celebramos a comida configuram diversidades sociais e territoriais em mutação e em busca de reconstruções identitárias portadoras de sentido.
Os processos e os itinerários de produção e circulação do que comemos, têm trazido questionamentos éticos e de sustentabilidade nas suas dimensões social, cultural, económica e ambiental, incontornáveis nas sociedades atuais.
A comida, e as culturas alimentares viajam com as pessoas pelo que as mobilidades e as errâncias, consubstanciadas em diferentes práticas, como o turismo ou as migrações, constituem domínios de abordagem da alimentação de grande atualidade.
A patrimonialização da alimentação, nas suas práticas, saberes-fazer, objetos e aspetos simbólicos, conduzindo às gastronomias locais, nacionais, territoriais, das pessoas ou, simplesmente gastronomias, alargam o debate ao património, quer material, quer imaterial.
Assim, neste Painel apelamos à apresentação de propostas de comunicações nestes domínios e questionamentos, abrangendo entre outros os seguintes tópicos:
Alimentação, diáspora, mobilidades e migrações
Alimentação, museus e patrimónios (material/imaterial)
Culturas alimentares e sustentabilidade
Estilos de vida e estilos alimentares
Estratégias e tendências de produção e consumo alimentar de proximidade
Gastrodiplomacia, diplomacia culinária, diplomacia alimentar
Gastronomia e políticas públicas
Gastronomia, artes e criatividade
Identidades gastronómicas, território(s) e paisagem(ens)
Indicações geográficas (lato sensu), identidade e sustentabilidade
Práticas de gastronomia regenerativa e etnografia
Simbologias, imaginários gastronómicos e turismo
Tradição, inovação e modernidade alimentar
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As primeiras décadas do século XXI foram envoltas por diferentes crises que, em distintas oportunidades, entrelaçaram o local e o global em uma espiral de conflitos sociais. O elenco das crises constitui-se como um fenômeno total, uma vez que envolve o clima, a política, a desinformação potencializada pelas novas tecnologias, os movimentos migratórios, a produção agrícola, a sobrevivência da democracia, os direitos reprodutivos, as cidades, as questões de gênero e sexualidade, assim como as inúmeras demandas por redução das desigualdades. Nesse contexto, a produção de etnografias e análises situacionais surge como uma maneira de refletir sobre os desafios imediatos e apresentar formas de resistência e resiliência que auxiliem na compreensão do cenário distópico que vivenciamos nessas primeiras décadas do século XXI. Aqui, portanto, buscamos reunir etnografias sobre contextos distópicos onde a emergência de conflitos sociais se mostra em sua plenitude, destacando as diferentes crises da contemporaneidade, as violências e as ansiedades de caráter político, ético, econômico, social e ambiental que tem marcado a experiência cotidiana de diferentes grupos sociais em cenários de vulnerabilidade.
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Propondo reunir antropólogos e artistas, este painel procura observar que práticas e estratégias, estéticas e políticas, estão a ser despoletadas para endereçar a crise ecológica, denominada como Capitaloceno (Moore 2016), Antropoceno (Latour 2015), entre outras denominações mais singulares (Haraway 2016). Desde o séc. XIX que antropologia e arte estão interligadas (Morphy & Perkins 2006) em reciprocidades e contestações (Marcus & Myers 1995), que vêm a ser discutidas de forma mais sistemática desde os anos 90 (Foster 1996).
Atualmente, com o reconhecimento da crise ecológica, estas afinidades e interesses comuns multiplicam-se, e verifica-se uma troca de perspetivas teóricas e metodológicas (Sansi 2015, Bourriaud 2022), que convergem em colaborações interdisciplinares e experimentais (Schneider 2006, Laine 2018), no sentido de conceber novas formas de alcançar e endereçar um problema que se identifica ser tanto ecológico como político (Demos 2016). A quase total anexação do planeta à gestão humana, iniciada com a colonização da natureza do séc. XIX, definiu um cenário finito e denso, pautado por conexões e fricções inesperadas entre humanos e não-humanos (Tsing 2005). A resposta da antropologia e da arte do séc. XXI tem passado pela manifestação desta complexidade através de práticas e abordagens mediadoras e/ou amplificadoras destas interações entre diferentes espécies (Kirksey 2014, van Doreen et al 2016).
Procurando imergir neste contexto emaranhado, este painel quer criar uma plataforma de reflexão e experimentação que possibilite, através das práticas e conhecimentos convocados pela arte e pela antropologia (ou ambas), interrogar o papel dos diálogos interdisciplinares que endereçam o atual cenário ecológico. Convidamos propostas de artistas e antropólogos, que atuem nestes terrenos ecologicamente complexos e ambígenos, no sentido de questionar criticamente a nossa relação com o que denominamos de ‘natureza’ (Latour 2017 [2015]).
A proposta prevê ainda a organização de uma exposição que dialogue com a temática, em articulação com o painel: «O que nos têm a dizer as pedras, o vento, os rios e outros elementos abióticos? Pensar o Mundo através de formas criativas de fazer uma antropologia mais-do-que-humana», proposto por Humberto Martins e Sónia Mota Ribeiro, caso seja possível o acolhimento por parte da organização.
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A Antropologia Biocultural, como área interdisciplinar, encontra-se pouco desenvolvida em Portugal. Esta lacuna resulta de uma conjugação de fatores históricos, políticos, institucionais e culturais, incluindo o desenvolvimento tardio da Antropologia no geral, a vinculação da abordagem biocultural a uma tradição académica limitada às ciências biológicas, a escassez de financiamento, bem como questões éticas associadas ao recente passado colonial, que ainda carece de um processo de desconstrução. Acresce que a investigação biocultural em Portugal está dispersa por várias instituições e diluída em programas com focos e objetivos distintos o que marginaliza ainda mais esta área interdisciplinar. A escassez de centros de investigação integrados e coesos limita o impacto deste campo. A investigação biocultural exige uma abordagem interdisciplinar robusta, que combina conhecimentos de biologia, antropologia, arqueologia, medicina, economia, demografia, ciências da saúde e ciências ambientais, entre outras áreas. Apesar das limitações, o trabalho desenvolvido em Portugal é notável. Para preparar este painel, as coordenadoras realizaram uma revisão bibliográfica sistemática rápida de trabalhos com foco biocultural, por autores portugueses, ou afetos a instituições portuguesas, num número seleto de revistas indexadas onde a investigação biocultural é publicada. Foram identificados 106 artigos nas revistas American Journal of Human Biology, Annals of Human Biology e American Association of Biological Anthropology. Contudo, estamos cientes de que outras publicações relevantes estão dispersas por revistas publicadas em português, o que as exclui frequentemente de buscas bibliográficas que priorizam publicações em inglês, devido ao enviesamento científico de privilégio da investigação em língua inglesa.
Neste sentido, com este painel, queremos reunir contribuições focadas na abordagem biocultural e desenvolvidas por investigadores portugueses com o objetivo de, em conjunto, definir estratégias inovadoras que promovam o desenvolvimento eficaz da antropologia biocultural no país. Este painel não se limita à divulgação de investigações individuais; vai mais além, criando um quadro para uma investigação mais inclusiva e interdisciplinar, capaz de ultrapassar os limites institucionais verticais. Recorrendo a elementos da Teoria da Mudança (Theory of Change), investigação-ação participativa (Participatory-Action Research) e análise de lacunas (Gap Analysis), pretendemos concluir este painel com uma estratégia tangível que enriqueça e fortaleça a comunidade de investigadores bioculturais em Portugal.
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Este painel explora a relevância do campo emergente da Antropologia da Tecnologia para investigar as múltiplas interseções entre as práticas atuais e os imaginários futuros, e vice-versa. Nos últimos anos, o estudo dos aspetos sociais da ciência e da tecnologia ganhou destaque, especialmente motivados pelos investigadores dos Science and Technology Studies (STS). A Antropologia da Tecnologia emerge como uma disciplina crucial neste contexto, permitindo uma análise aprofundada de como a tecnologia molda e é moldada por contextos culturais e políticos e como promove interseções entre figuras da experiência e da expetativa.
A análise das políticas dos objetos técnicos e das infraestruturas tem revelado a não neutralidade dos empreendimentos tecnológicos e científicos, que atuam tanto como oportunidades como constrangimentos na construção dos sistemas sociotécnicos. Isto suscita várias interrogações essenciais: Que papel desempenha a tecnologia, em especial as ditas “novas tecnologias”, nas nossas vidas diárias? Como é que o desenvolvimento tecnológico alimenta os imaginários sobre os futuros desafiando a emergência de uma antropologia antecipatória? Como é que os imaginários sobre o futuro, alimentados pelo desenvolvimento tecnológico, influenciam e moldam as práticas presentes? De que forma os empreendimentos tecnológicos e científicos afetam a nossa compreensão das dinâmicas de poder na sociedade? Como é que as decisões tecnológicas, muitas vezes tomadas por elites, afetam as comunidades marginalizadas?
Este painel visa identificar os desafios que a Antropologia da Tecnologia enfrenta ao reivindicar um lugar central na interpretação crítica dessas práticas. Promove-se a produção de um diálogo interdisciplinar que reforce a sua importância para a investigação antropológica e para a compreensão dos desafios contemporâneos provocados pela aceleração dos processos de criação e inovação tecnocientífica. São convidados investigadores, académicos, educadores e estudantes a participarem nesta discussão vital, que se apresenta como uma oportunidade para explorar novas direções e caminhos na investigação antropológica, contribuindo para um entendimento mais profundo das complexas relações entre tecnologia, cultura, poder e temporalidade. Em última instância, desafia-se a realização de uma antropologia que não se baste por analisar o passado e o presente, mas que também antecipe futuros possíveis, enriquecendo o nosso campo de estudo e a sociedade como um todo.
In person Panel
Num momento em que as fronteiras estão cada vez mais sob vigilância e carregadas de tensões políticas e sociais, este painel propõe uma reflexão antropológica sobre as fronteiras, entendendo-as como elementos constitutivos de subjetividades e, ao mesmo tempo, espaços de confronto e produção de alteridades. Na conformação da ordem interestatal contemporânea, multiplicaram-se os espaços de fronteiras, parte constitutiva e necessária para a existência do estado-nação moderno. Mais do que meros elementos limítrofes, as fronteiras tornaram-se dispositivos produtivos das próprias identidades nacionais. Nesse sentido, a fronteira não é um elemento natural do mundo, mas algo que precisa ser constantemente fabricado e reafirmado.
Este painel se propõe a analisar as fronteiras como espaços complexos, onde ocorre e se transforma a vida. Em vez de abordá-las como espaços meramente limiares, a proposta vê a fronteira como elemento produtor de subjetividades — um mecanismo que, simultaneamente, gera identificação e alteridade. O painel busca explorar os processos que fabricam a própria fronteira e que estruturam a dialética identidade/alteridade, examinando também como esses processos são corporificados pelos diferentes atores que habitam e transitam por esses espaços.
Trabalhos que lidam com populações cuja existência fronteiriça é elemento constitutivo de sua identidade são especialmente bem-vindos. Isso inclui povos indígenas cujos territórios foram atravessados pela criação dos estados modernos, como Curdos, Guaranis, Saharauis e Baloches, bem como identidades mestiças e híbridas emergentes das fronteiras.
Além disso, as fronteiras constituem caminhos e passagens, essenciais nas narrativas de migração. Tornam-se, assim, tanto espaços de insegurança e perigo — como visto nas construções populistas sobre "ameaças" fronteiriças — quanto de perigo concreto para pessoas migrantes sem documentos, para as quais a fronteira pode representar uma ameaça real à vida.
Ainda, interessa ao painel trabalhos que abordem atividades econômicas ontologicamente dependentes das fronteiras, do comércio ao contrabando, da ajuda humanitária ao controlo.
In person Panel
A antropologia demorou a interessar-se pelos média como objecto e campo de estudo. Se já encontramos sinais desse interesse em finais da década de 1940, na investigação que a antropóloga norte-americana Hortense Powdermaker realizou sobre Hollywood, só na viragem do século é que um corpus de trabalhos empíricos e teoricamente ambiciosos começaria a tomar forma em torno de uma ideia de ‘antropologia dos média’. Falamos, em especial, do trabalho de antropólogos como Lila Abu-Lughod (a televisão no Egipto), Faye Ginsburg (os média indígenas), Brian Larkin (o cinema na Nigéria), Purnima Mankekar (a televisão na Índia), Debra Spitulnik (a rádio na Zâmbia), Sherry B. Ortner (o cinema independente norte-americano) e Tejaswini Ganti (Bollywood). Estes e outros investigadores deram primazia à etnografia para analisar quer as audiências – que, na década de 1990, adquiriram um papel central nos estudos culturais britânicos – quer a produção e a circulação de filmes, programas de rádio e televisão em espaços vividos (trans)nacionais. Este painel pretende retomar os debates iniciados nessa primeira grande vaga da ‘antropologia dos média’ para tomar o pulso à investigação que, desde então, se tem vindo a desenvolver – em Portugal, mas não só – no âmbito da antropologia e em áreas afins, em estreito (ou tenso) diálogo com os estudos dos média (ex. economia política dos média; indústrias culturais e criativas; indústrias dos média), as políticas culturais (ex. David Hesmondhalgh), os estudos de produção (ex. John Caldwell), as etnografias institucionais (ex. Georgina Born), e as etnografias do trabalho cultural e criativo (ex. Timothy D. Taylor). Interessam-nos, em particular, investigações recentes ou em curso de cariz etnográfico e reflexivo sobre cinema, televisão, rádio, música, videojogos, internet, para além de outros média e formas de produção cultural, que possam oferecer análises situadas e densas de processos complexos e disputados, tais como a mercadorização da ‘cultura’, a digitalização das práticas, a profissionalização/precarização do trabalho criativo, as lógicas de inclusão/exclusão social, a criação de valor e ‘economia’, entre outros. O objectivo último do painel é contribuir para uma antropologia pública e crítica sobre o vasto campo da produção cultural e dos média.
In person Panel
O ensino da antropologia em Portugal foi sendo alterado de acordo com as grandes mudanças operadas ao nível dos acontecimentos e comportamentos, das epistemologias e paradigmas no mundo e no país. Após a revolução de 25 de Abril de 1974 mudaram-se territórios e objetos de estudo e formas de fazer trabalho de campo e de interpretar e escrever sobre os dados recolhidos. Nas últimas décadas a antropologia especializou-se, internacionalizou-se, e, de certo modo, diluiu-se em áreas de estudo multidisciplinares perdendo visibilidade e relevo institucional dentro de portas. Porém o que une os antropólogos de várias gerações é o trabalho de campo, o registo no diário das observações, as entrevistas, as histórias de vida, o trabalho de arquivo e a reflexividade. Nos caminhos trilhados pela antropologia em Portugal e da sua institucionalização a disciplina foi ensinada em escolas, em institutos politécnicos, em universidades públicas e privadas e em oficinas, cursos e workshops.
Neste painel convidamos a apresentar propostas sobre estas questões, ou que estejam relacionadas com as mesmas:
-Como ensinar antropologia hoje? (Que bibliografia escolher? Quais os principais conceitos? Que exercícios práticos podem ou devem os estudantes fazer?)
-Antropólogo como técnico especializado na escola para fazer mediação cultural e para ensina antropologia.
-Experiências de antropólogos em escolas como professores de diferentes grupos de recrutamento
-Experiência de lecionação da disciplina opcional do Secundário Antropologia e organização das Oficinas de Antropologia como atividade extra-curricular
- Experiência de criação do mestrado de ensino em Antropologia e Cidadania e reelaboração do programa da disciplina aquando da definição das aprendizagens essenciais
- Antropologia como cadeira lecionada em cursos de outras áreas disciplinares (educação, comunicação social, cinema, ciências sociais, enfermagem)
-Antropologia lecionada em workshops e oficinas
-História do ensino da Antropologia em Portugal
In person Panel
O feminismo, como movimento cívico, teórico e político, desafiou os paradigmas clássicos da Antropologia ao propor novas formas de pensar as relações sociais e a construção de identidades. Neste painel pretendemos debater as formas como os feminismos influenciaram a reflexão antropológica e a constituição contemporânea da disciplina, ao integrar as teorias feministas como uma perspectiva central para a compreensão das desigualdades e das dinâmicas de poder.
Pretendemos discutir como as lentes feministas têm influenciado o campo da Antropologia e os seus entrelaçamentos teóricos.
Neste painel queremos analisar como os feminismos, em suas múltiplas vertentes, têm contribuído no desenvolvimento dos estudos antropológicos contemporâneos, examinando os desafios e inovações teóricas e metodológicas decorrentes desse encontro. Interessa-nos particularmente explorar como os feminismos negros, decoloniais e as epistemologias indígenas desafiam os paradigmas eurocêntricos da Antropologia.
Propomos considerar os efeitos do diálogo entre feminismos e antropologia a partir de reflexões teórico/metodológicas ancoradas em estudos de diversos campos empíricos. Sugerimos apenas alguns, como mobilidades/migrações, fronteiras, parentesco, relações amorosas, parentalidades, ativismos, precariedades, violências.
In person Panel
As Avaliações de Impacte Ambiental (AIA) constituem um mecanismo preventivo integrante das políticas ambientais, e que se destina a assegurar a identificação e avaliação de potenciais impactes (diretos e indiretos) de certos projetos, tanto de iniciativa pública quanto privada, no ambiente natural e social em que se inscrevem. Dependendo de normativas legais e regulamentares específicas de cada país, as AIA são frequentemente utilizadas para prevenir ou minimizar danos ambientais antes da implementação de tais intervenções, tendo vindo, por isso, a tornar-se mecanismos importantes de decisão informada para governantes que emergem cada vez mais como tecnocratas. Não obstante, o sucesso destes procedimentos de avaliação ambiental depende não só da qualidade dos estudos técnicos e de quem neles participa, mas também de uma participação pública efetiva; e sobretudo, do compromisso político para com o Ambiente e a Natureza. Assim sendo, tanto as AIA como a formulação de políticas públicas ambientais podem beneficiar significativamente da perspetiva e participação dos antropólogos para garantir que as medidas adotadas sejam o mais possível culturalmente sensíveis e efetivamente sustentáveis. Esta participação pode facilitar a adoção de práticas ecológicas que estejam mais alinhadas com os valores locais, aumentando a probabilidade de sucesso das políticas implementadas. Por exemplo, a compreensão dos sistemas de conhecimento locais e tradicionais e das relações comunitárias com os recursos naturais pode informar políticas que respeitem e integrem essas práticas ao invés de impor modelos que podem ser estranhos, contrários ou menos eficazes para as comunidades locais. Assim, através de uma colaboração interdisciplinar entre antropólogos, outros especialistas e formuladores de políticas públicas, é possível desenvolver estratégias de gestão ambiental que sejam ao mesmo tempo socialmente inclusivas e eficazes. Assumindo que os antropólogos possam ser itinerantes nestas realidades, este painel procura discutir as possibilidades e limitações destes mecanismos de avaliação de impacte ambiental e explorar o papel que os antropólogos têm tido ou possam vir a ter nos processos de formulação de políticas públicas ambientais em diferentes escalas.
In person Panel
Este painel visa pensar os fazeres do lazer a partir daquilo que as tornam viáveis, factíveis, isto é, de sua produção e seu usufruto.
Por lazer, entendemos a vivência de diversas práticas culturais como os jogos, as brincadeiras, os games, as viagens/turismo, os esportes e as manifestações artísticas, dentre outras possibilidades, por meio das disposições lúdicas, as quais respondem às mais profundas e permanentes necessidades das sociedades. Nelas encontramos poderosos momentos de construção de identidades e transcendências, os quais transformam a vida social em vida pública, abarcando questões acerca de raça, etnia, gênero, classe, religião e representatividade, dentre tantas outras que nos permitem estabelecer um arcabouço analítico de compreensão da sociedade.
Contemplando as dimensões do tempo, espaço-lugar, impacto e capacidade de agência dos actantes, observa-se que os fazeres do lazer inserem-se no seio da cultura, entendida em sua centralidade substantiva e epistêmica na sociedade. Em suma, esta inscrição se encontra na vida cotidiana, nas subjetividades e em processos de construção de mercados específicos, ponderando formas individuais e coletivas de criação e apreciação, dimensão do projeto e do sonho na construção de carreiras, relações com os poderes públicos e entes privados e os usos das mídias sociais e plataformas digitais.
Por outro lado, em sociedades cada vez mais apreendidas a partir de redes de conexão, torna-se mister a ampliação do espectro da análise dos fazeres do lazer a partir da abertura a outras formas de percepção do ambiente e de socialização, transcendendo as dimensões descritivas e simbólicas destas práticas, mirando saberes, técnicas, competências, artefatos e tecnologias; em suma, materialidades que constituem e são constituídas pelos imaginários.
Desta forma, visamos agregar estudos e experiências no intuito de estabelecermos diálogos a partir de propostas que debatam saberes, suportes, linguagens, narrativas e conhecimentos operados nos fazeres do lazer a partir de conexões para além da interdisciplinaridade, por onde emergem forças criativas que também incorporam diferentes epistemologias e ontologias.
In person Panel
The rapid global spread of technologies of the self such as psychotherapy or coaching raises questions concerning the new forms of subjectivity and identity that they might help to bring into being. These technologies have long been critiqued for assuming the universality of a particular Western form of ‘individualism’ that fails to take into account culturally variable models of personhood that lay more stress on its social or relational nature. The model of individualism that anthropological critiques have long focused on is a ‘bounded’ individual whose core or essence is conceived of as being outside of or prior to social relations. These critiques have a long history in anthropology and are now widely spread and accepted within disciplines such as psychotherapy themsleves. This is despite a long history of psychotherapeutic approaches that stress the relational construction of the person and push at the boundaries of bounded models of the individual.
The spread of psychotherapy and related technologies of the self or emotional pedagogies raises new ethnographic questions, such as the extent to which they can be considered as harbingers of this ‘individualism’ and whose interests this might serve. In this panel we invite reflections on this question and in particular, the question of whether new forms of ‘individualism’ are best understood via the bounded individual versus relational person dichotomy that has often structured anthropological critique. In particular, we explore the possibility of ethnographically analysing forms of personhood that can often be characterised as ‘individualistic’ in that they value and focus on the allegedly inner emotional world while stressing its relational origin. We explore the ways in which these forms of ‘relational individualism’ can be seen in many contemporary technologies of the self. We invite papers that ethnographically document contexts and practices that promote a new or increased focus on the inner emotional lives of participants in an explicitly relational manner.
In person Panel
Many parts of the world are experiencing a growing care crisis at a time of larger demographic transformations, including population aging, leading to new care demands and pressures. East Asian countries like China are at the heart of these developments, but remain poorly studied. This panel brings together emerging critical anthropological research on China’s growing care crisis to make a non-Western-centric intervention in on-going feminist debates on the current global care crisis. Feminist political theorists like Nancy Fraser (2016, 2021) have argued that the current global care crisis is a particularly acute manifestation of a social-reproductive contradiction inherent in capitalism, namely its structural devaluation of reproductive labor and its assumption that reproductive capacities are infinite and readily available at a cheap price. This assumption means that reproductive capacities are often stretched to the breaking point. Indeed, the history of capitalism can be described as a succession of breaking points with varying degrees of intensity. Previous forms of capitalism have produced temporary solutions to these crises, but did not resolve the key issue of the structural devaluation of care work. The current world order of neoliberal digital capitalism has only intensified this devaluation, leading to an unprecedented care crisis that cannot be solved by "quick-fixes”. In this panel, we engage with Nancy Fraser and other feminist scholars to call for more critical research on the global care crisis but we are critical of monolithic approaches too centered on Western perspectives and trajectories. Inspired by recent anthropological scholarship (Santos and Gottschang 2020; Eyferth et al. In Press), we call for a Chinese and East Asian decentering of ongoing feminist debates on the global care crisis. In this panel, we invite papers proposing critical ethnographic approaches to everyday manifestations of China’s growing care crisis: from childbirth care to child care, from elderly care to end-of-life care. Focusing on China’s care crisis from a critical perspective is also a good way to develop new insights on what is happening in other parts of the world and what must be done to overcome or at least to attenuate the effects of the current crisis.
In person Panel
O turismo é um objeto de investigação pouco reconhecido pela antropologia portuguesa e pelas suas agendas de investigação (Pereiro & Fernandes, 2015; 2018; 2022), apesar de este já existir há algumas décadas, tanto no ensino como na investigação, como subcampo antropológico e como parte dos estudos turísticos (Graburn, 1980; Steil 2002). Embora haja crescentes esforços direcionados à compreensão do turismo como atividade humana e espelho das complexidades das sociedades contemporâneas, o turismo ainda é visto com desconfiança e como uma atividade estritamente mercantil.
Neste painel pretende-se debater contributos passados, presentes e futuros da antropologia para o estudo do turismo. Procuramos casos etnográficos, reflexões teóricas e experiências técnicas e metodológicas que abordem o uso da antropologia no turismo, com o objetivo de promover um diálogo construtivo sobre o papel que a antropologia deve desempenhar na investigação do turismo.
A partir de uma pluralidade de perspectivas epistemológicas e teóricas, propõe-se por um lado, uma reflexão crítica sobre o papel do turismo nas dinâmicas de acumulação e concentração de capital e o seu poder para organizar ou desorganizar a ordem social das comunidades recetoras. Por outro lado, urge refletir sobre as respostas e reações diversas face aos seus excessos predatórios. Os processos de acumulação e concentração de capital e patrimonialização da atividade turística são contraditórios, moldando a reprodução social das sociedades anfitriãs. Por isso, a análise antropológica é essencial para analisar as práticas de lazer, os processos de interação e as dinâmicas de mudança.
Um dos valores da antropologia do turismo é mostrar a diversidade dos encontros e desencontros turísticos, bem como as desigualdades produzidas nas comunidades recetoras. O turismo é um fenómeno que tem contribuído com novos parâmetros para a discussão de temas já clássicos nas ciências sociais, tais como a mudança cultural, a acumulação de capital, as identidades, os contactos interétnicos, o património cultural e natural, as desigualdades de género, etc. Portanto, a antropologia do turismo é um campo fértil para a discussão de velhos temas centrais em antropologia e como esses se têm transformado atualmente.
In person Panel
Ao longo das últimas décadas, temos testemunhado uma sobreposição de crises (financeira, económica, ambiental, sanitária, habitacional) decorrentes do sistema capitalista neoliberal, acompanhadas de um sentimento geral de impotência e incapacidade de imaginar alternativas. As soluções governamentais passam muitas vezes pela legitimação de processos extrativistas, de exploração laboral e de degradação ambiental, encobertos por uma narrativa de “transição verde” que favorece a acumulação de capital e justifica a suspensão do poder local e do exercício da democracia em prol do “interesse nacional”.
Perante falsas transições eco-sociais, consideramos urgente apresentar alternativas que pressuponham uma mudança sistémica, contribuindo para construir futuros em que a alteridade, a heterogeneidade e a complexidade ecológica possam coexistir. Este painel servirá de plataforma para partilhar e refletir sobre exemplos de práticas prefigurativas – experiências que materializam alternativas ao modelo hegemónico atual, em termos de produção energética, alimentação, habitação, mobilidade, pedagogia, cuidado interpessoal, etc. O objetivo será fomentar o diálogo em torno dos processos e das ferramentas utilizadas nesses pequenos laboratórios, que se multiplicam por diferentes territórios, dedicados a ensaiar outras formas de nos relacionarmos e organizarmos.
Convidamos investigadores, ativistas e artistas empenhades em imaginar e ajudar a criar outros futuros possíveis. Desde cooperativas a comunidades intencionais, okupas, unidades de produção em auto-gestão, circuitos curtos, bancos de tempo, moedas sociais, software livre/open-source, creative commons e outras formas de fomentar o bem comum. Este é sobretudo um convite a pensar, coletivamente, como as iniciativas locais em que agimos se enquadram numa sociedade hiperglobalizada, marcada por relações de poder que transcendem fronteiras nacionais, e sobre o potencial que oferecem para a transição em direção a uma sociedade pós-capitalista.
Este painel terá um formato de mesa redonda, em que, com base nas suas investigações e processos criativos, cada interveniente será convidada/o a refletir sobre as seguintes questões:
- Que ferramentas são utilizadas para desenvolver autonomia em relação ao binómio Estado-Mercado? Quais os seus limites?
- Que estrutura organizativa e processos de tomada de decisão e implementação são desenvolvidos?
- Qual a relação entre as práticas colaborativas e as individualidades que as compõem?
- Como se previne e responde a ameaças de cooptação?
In person Panel
Nos últimos anos, os processos de produção e criação de conhecimento têm sido questionados a partir de diferentes paradigmas que questionam as desigualdades, assimetrias e hierarquias que caracterizam as instituições e figuras socialmente legitimadas para obter conhecimento. Estas críticas estendem-se a outras áreas da investigação social como o distanciamento e consideração do sujeito e objecto investigador, o lugar de enunciação e posicionalidade, os conceitos e categorias utilizados, os níveis de participação ou a reflexividade.
Contudo, o apelo à emenda não é exclusivamente um brinde teórico. Paralelamente ao desenvolvimento destas críticas, as metodologias e técnicas em investigação social têm registado um processo de abertura e flexibilidade no sentido de uma maior participação e envolvimento das comunidades estudadas, por um lado, e de hibridização com as práticas que se desenvolvem em outros terrenos, entre eles, o das artes, por outro.
Embora o conjunto das Ciências Sociais tenha sido interpelado por este questionamento, são particularmente aquelas áreas de estudo que são intrinsecamente interdisciplinares, como os estudos feministas e de género, ou os estudos migratórios- em que se enquadram boa parte das propostas deste painel -, aqueles que mais atenção prestaram.
Neste painel apresentamos um conjunto de comunicações que interrogam criticamente a produção de conhecimento na intersecção dos estudos feministas e de género e migratórios, a partir do trabalho de um grupo interdisciplinar de investigadoras sociais com a comunidade de mulheres migrantes cabo-verdianas em Espanha.
As experiências apresentadas incluem práticas a meio caminho entre a investigação e a arte, como o photovoice; exemplos de produção de conhecimento através de documentário; pesquisas que interrogam a construção de arquivos musicais; Práticas DIY (faça você mesmo) de co-criação como o fanzine e intervenções que fazem emergir uma comunidade de mulheres artistas na diáspora.
No seu conjunto, estas comunicações fornecem elementos de debate em consonância com as recentes críticas teórico-metodológicas às formas de produção, legitimação e difusão do conhecimento.
In person Panel
Experiências emergentes desafiam os limites tradicionalmente estabelecidos dos campos da arte e da política. Formas contemporâneas de ativismo e experiências artísticas de cunho político erodem fronteiras não apenas entre esses campos, mas igualmente entre as esferas pública e privada. Deslocamentos e itinerâncias de ideias políticas e de gestos artísticos plasmam-se em vanguardismos de esquerdas e direitas que se contaminam, reperformam, contestam. Em tempos recentes e profundamente incertos, diversas ocupações de espaços estratégicos surgem frequentemente conectadas com o que se vem discutindo a partir da noção de artivismo, contrapondo-se, em muitos sentidos, ao que é tradicionalmente levado a cabo pela política (e pela arte) institucionalizada, mas também revelando suas porosidades e contágios. Nesses tempos-espaços dos protestos contemporâneos, como sugeria Julia Ruiz Di Giovanni (2015), criam-se “zonas autônomas temporárias” (Bey, 1985) onde se reconfiguram e experimentam novas formas de relação e visão social que possuem, potencialmente, a promessa de construção de outros horizontes e projetos de sociedade. Neste painel iremos privilegiar trabalhos de cunho etnográfico que lidem com o substrato do vivido em suas manifestações concretas e estimulamos que se apresentem em formatos não convencionais (performance, instalação, vídeo-art, fabulações). As discussões ensejadas atravessam, por um lado, a reflexão sobre a operacionalização das práticas criativas que problematizam os limites de uma suposta autonomia do campo artístico, assim como questionam os impasses contemporâneos relativos aos modos coletivos de organização e o modo de amplificação com que certas atuações políticas públicas trespassam campos ideológicos opostos. Finalmente, o corpo (inclusive do próprio investigador, frequentemente criador e ativista também) e a ocupação dos espaços públicos são centrais neste debate, como Judith Butler (2019) sugeria na sua discussão sobre “políticas da rua”. Os limites do que é considerado legítima e adequada ação política se unem de maneira inseparável para permitir um questionamento sobre o lugar do corpo, seus poderes, vulnerabilidades e deslocamentos das fronteiras entre espaço público e privado em práticas políticas contemporâneas como sejam ocupações e motins, manifestações, paradas e desfiles, performances ou site specific, entre outras formas de emergência de uma “vigorosa estética de protesto” (Sholette 2022).
In person Panel
O que fazemos nós, indigenistas, antropólogos/as, indígenas, seres humanos e não humanos, depois da pandemia Covid-19, depois de destruição imposta pela hidrelétrica de Belo Monte, depois das violências sistemáticas das Ditaduras civis-militares contra povos indígenas, depois das queimadas e desmatamentos que impõe os impactos graves das mudanças climáticas sobre os povos indígenas? Que tipos de engajamentos mútuos, de indígenas e indigenistas, são e foram possíveis para além dos fins do mundo evidenciados por essas agências destrutivas de vidas, línguas, culturas, saberes e biodiversidades? Os estudos sobre cosmopolíticas indígenas chamam a atenção para formas de agência e engajamentos mútuos entre povos indígenas e seres não humanos em resistência às violências do Estado e do Capitaloceno. As lutas pela efetivação de direitos territoriais e ambientais, de saúde, educação, patrimoniais são transversais a diferentes povos indígenas das Américas e aproximam historicamente indígenas e indigenistas em engajamentos mútuos contra a destruição, genocídio, e violência, e pela consolidação de direitos e políticas públicas que gerem o bem viver. Historicamente, por meio de engajamentos mútuos, movimentos indígenas e organizações indigenistas contribuíram com a elaboração de instrumentos jurídicos para assegurar direitos sociais e específicos, ao mesmo tempo em que somaram forças para pressionar o Estado e demais atores políticos para a efetivação de políticas públicas voltadas à demarcação territorial, educação diferenciada, saúde específica, salvaguarda cultural e linguística, dentre outros. A antropologia tem um longo histórico de envolvimentos para assegurar direitos de proteção em várias frentes – saúde, educação, território, patrimônios ambientais e culturais, e muitos outros. Em interface com políticas públicas a antropologia constitui-se como um campo que sempre esteve às voltas não só com a compreensão dos modos de vida, práticas e saberes dos povos indígenas, mas que também buscou implicar-se nas lutas por direitos tendo nomeado essa busca como antropologia pública, antropologia aplicada, antropologia implicada, antropologia participante (pesquisa ação), antropologia decolonial. Nesse sentido, o presente painel abre-se à contribuição de pesquisadores e ativistas de diferentes áreas que reflitam sobre engajamentos mútuos, indígenas/indigenistas/não humanos, para a efetivação de direitos indígenas do bem viver e contra os fins do mundo perpetuamente impostos pelo colonialismo e pelos Estados Nacionais.
In person Panel
A saúde mental contemporânea encontra-se num ponto crítico de intersecção com as biopolíticas globais e as tecnologias emergentes. No início do século XX, muitas das políticas excludentes e eugénicas caracterizaram-se pela defesa da esterilização forçada de pessoas diagnosticadas com perturbações mentais, vistas como “inaptas” para a reprodução. Embora essas práticas tenham sido posteriormente condenadas, deixaram marcas profundas, especialmente em comunidades marginalizadas, cujas repercussões fazem-se sentir até hoje. Atualmente, as novas tecnologias genéticas, como o CRISPR-Cas9, reavivam debates antigos, oferecendo possibilidades de modificação do ADN humano. Estas ferramentas permitem, por exemplo, prevenir a transmissão de doenças mentais hereditárias. Paralelamente, a neuroengenharia, com técnicas como a Estimulação Cerebral Profunda, promete transformar o tratamento das perturbações mentais, embora levante preocupações sobre a medicalização excessiva e a potencial perda de autonomia individual. Embora estas tecnologias reduzam o sofrimento, colocam questões éticas complexas sobre a manipulação da natureza humana e a redefinição da normalidade. Neste cenário, a antropologia, com a sua abordagem crítica, assume um papel fundamental na análise das implicações sociais e culturais destas novas tecnologias. Ao investigar as relações de poder subjacentes às práticas de cuidado e regulação, a disciplina pode revelar as desigualdades e injustiças a permear os discursos sobre a saúde mental. É essencial que a antropologia estabeleça um diálogo interdisciplinar, envolvendo áreas como a bioética e as ciências sociais, para contribuir para um futuro no qual a saúde mental seja promovida de forma equitativa e inclusiva. Urge questionar até que ponto a busca por uma mente “normal” e “saudável” não propaga antigas formas de controlo social, já que a história demonstra que as noções de normalidade são construídas socialmente e, muitas vezes, justificam a exclusão e a discriminação. O principal objetivo deste painel é incentivar uma reflexão interdisciplinar sobre esses assuntos e examinar como a antropologia pode contribuir para a compreensão das relações de poder nas práticas de cuidado. Além disso, pretende-se promover discussões que proponham alternativas inclusivas e justas, refletindo na construção de políticas públicas equitativas e resistentes às lógicas excludentes do passado.
In person Panel
Non-human primates, our closest living relatives, have evolved in close proximity to human societies, often sharing resources, territories, and even ecological niches. Their presence has left a significant mark on human life and culture, integrating into myths, cosmogonies, and material culture. These animals have long played essential roles in human societies, and our lives are deeply intertwined with theirs. Primates can have both positive effects on humans (e.g., as seed dispersers) and negative ones (e.g., spreading zoonotic diseases and raiding crops). Humans, in turn, profoundly impact their lives, shaping their evolution by destroying habitats, hunting, and trading them. Anthropogenic actions have now pushed over half of all primate taxa to the brink of extinction. Establishing a new form of coexistence is crucial to mitigating or reversing this trend. This panel aims to analyze the complex interactions between humans and other primates from ecological, cultural, historical, and genetic perspectives, fostering discussion and seeking sustainable solutions.
In person Panel
This panel focuses on dying in the digital age. It looks at the creation of collective and personal memories, taking into account two axis of analysis: (1) relatedness, kinship identities, and spirituality; (2) religious and ethnic pluralism.
We will accept papers addressing issues pertaining to transformations in the conception of death and rituals in any given ethnographic context. Some of the issues to be addressed may be: (1) progressive change into virtual sites and interactions: What do individuals feel about the potential use of QRcodes in the cemeteries and about the patrimonalization of such spaces of memory? What is the degree of use/preference for live-streaming funeral services, virtual gatherings for memorial events or creating on-line shrines? Why do people turn to on-line tributes, on-line memorials and social network groups? (2) Individual digital afterlife: What happens to a person´s online presence after one´s death, as this includes digital assets, social media accounts, on- line identities? Do people feel comfortable when they receive communications from someone who passed away? Do they feel it is ethical that others have the right to use the deceased’s data and sites? What is the degree of knowledge people have concerning EU General Data Protection Regulation (GDPR) as far as death is concerned? (4) Digital legacy: do individuals ever think of what will happen to this on-line data once they pass away? How do they feel about digital “pre-arrangements” or hiring a “digital death manager”? Do they feel that it is a violation of their privacy, when they share things on-line with 3000 “friends” on facebook and 4000 followers on instagram? Or do they avoid this issue as it confronts with their own death? (5) Digital ghosts: Do individuals feel that the use of digital avatars of the deceased, with whom we can talk, replace, in a way, practices of communication with the other world, usual in the many spiritual practices? Do they think it helps them through the grieving process, or, on the contrary, that it prevents individuals from doing their grief work and letting go of the deceased one?
In person Panel
What does it mean to engage care and compassion in the contemporary moment of significant environmental, political, and social upheavals? Medical anthropology offers key lenses onto vulnerability and suffering amidst structural violence especially for marginalized communities. Building on these longstanding analytic frameworks, this proposal roundtable asks: “How might recent ethnographic research on solidarity and ethics in such contexts facilitate new directions and foundations for broader networks of recovery, caregiving, even thriving?”
This panel on “Deep Care: Engaging Social Contexts of Structural Living” is proposed as a round table of leading medical anthropologists working on topics that include carceral hospice care, diasporic communities facing structural violence or displacements, and healing intergenerational trauma. Participants will address how changing identities of caregivers from medicalized practitioners to familial and social networks may facilitate possibilities for deeper engagements with self and communal recovery across the spectrum of life stages. The panel will critically examine ongoing structural formations of living with urgent or chronic conditions.
The proposed roundtable may fit in two possible thematic lines. The first on Itinerancies of Anthropology addressing the plurality of anthropologies past, present, and futures as well as public anthropology. The other alignment is with the second Itinerancies thematic line of Pathways, Mobilities, Displacements especially with regard to Changing Identities and Corporalities: therapeutic itineraries, routes, and localities. While panelists may not be working on human/non-human itinerancies, some may address the role of food, materialities, and heritage that are mentioned in the third itinerancie.
In person Panel
Num contexto de intenso debate político sobre migrações e direitos, torna-se crucial compreender as múltiplas formas de participação política de pessoas migrantes, através de diferentes tipos de organizações e coletivos. Neste painel propomos olhar estas mobilizações e as suas interações com os contextos nacionais em que se inserem, questionando como se formam, mantêm e se transformam ao longo do tempo. Em particular, pretendemos analisar as fronteiras e ambivalências entre modos formais e informais de organização, procurando examinar como essas formas de envolvimento político desafiam ou complementam quadros tradicionais de ação. Entendemos contextos formais como estando relacionados com estruturas institucionais e regulamentadas, mediante normas hierárquicas e regras pré-definidas (como ONGs, partidos políticos e sindicatos). Por outro lado, compreendemos contextos informais como movimentos de organização social que surgem autonomamente, fora das estruturas oficiais, tanto presencialmente como em ambientes digitais, explorando configurações alternativas de ação.
Procuramos fomentar uma discussão que problematize as fronteiras entre modos de organização formal e informal, para entender como as práticas são moldadas ou contestadas em contextos específicos. Quais são os fatores que facilitam ou impedem a criação e manutenção de redes de apoio político e solidariedade? De que forma as organizações navegam nas paisagens políticas enquanto perseguem ideais coletivos e/ou objetivos práticos?
Estamos particularmente interessadas em abordagens etnográficas e teóricas que examinem temas como o direito ao voto e à cidadania, o papel das redes de solidariedade e ativismo, os movimentos sociais em contextos migratórios, e as práticas de resistência que emergem em resposta a políticas de exclusão e a diferentes precariedades legais e sociais. Convidamos propostas que discutam as possíveis dimensões que surgem através de uma análise que parta desta problematização entre o formal e o informal, explorando as tensões e interações de/entre diferentes formas de organização e refletindo sobre os limites, constrangimentos e oportunidades que possam surgir. Explorando a forma como as práticas políticas reconfiguram, complementam ou resistem a paradigmas estabelecidos de cidadania e organização colectiva, procura-se encontrar novos quadros analíticos para a compreensão da antropologia política e dos movimentos sociais contemporâneos.
In person Panel
O campo biográfico-narrativo tem se destacado em diferentes áreas do conhecimento - como literatura, educação, história e ciências sociais-, atraindo pesquisadores da antropologia que se utilizam de referenciais teórico-metodológicos diversificados. As abordagens de cunho biográfico-narrativo postas em interlocução com seus contextos etnográficos enriquecem debates sobre teorias, fontes e métodos. Por meio desses diálogos torna-se possível reconstituir as narrativas biográficas, nelas observando modos de relações entre indivíduos, grupos e sociedade, que permitem depreender certas formas culturais, sociais e políticas subjacentes, possibilitando o enfoque de dimensões coletivas e institucionais nelas atuantes. Interessa a este painel reunir trabalhos que situem as narrativas biográficas em seus contextos sócio-histórico-etnográficos - objetos por excelência da “descrição densa” -, aqui também considerados como fontes para interpretações antropológicas. Interessa ainda a este painel debater os principais os temas e interesses de pesquisa; os referenciais teórico-metodológicos adotados, a diversidade de modelos analíticos e formatos de apresentação, bem como suas contribuições tanto para o campo biográfico-narrativo, quanto para a etnografia.
In person Panel
O campo de estudo das mídias digitais tem se consolidado como um terreno fértil de investigação interdisciplinar, conectando antropologia, comunicação, sociologia e outras áreas de conhecimento e da teoria social. Esse campo explora não apenas o uso cotidiano das plataformas digitais, mas também suas profundas implicações sociais, políticas e econômicas. As redes sociais, inteligências artificiais, a plataformização e a midiatização das relações tornaram-se elementos centrais para a compreensão das mudanças culturais e tecnológicas em curso.
No âmbito da pesquisa, métodos como a etnografia digital e a análise de big data proporcionam novas ferramentas para investigar como as mídias digitais transformam as relações de poder, práticas políticas e identidades culturais. Esses métodos permitem uma análise detalhada da circulação de dados e dos impactos das plataformas nas relações sociais contemporâneas. Pesquisadores têm se dedicado a explorar como esses ambientes digitais moldam práticas discursivas e reconfiguram fronteiras de investigação, ao mesmo tempo em que questionam as formas como esses dados são coletados, usados e comercializados.
No contexto educacional, o ensino sobre e com mídias digitais revela não apenas a necessidade de preparar os alunos para o uso crítico dessas ferramentas, mas também os desafios impostos pela captura das práticas docentes por plataformas educacionais capitalistas. Nesse sentido, a discussão sobre autonomia docente e as transformações nos modos de ensinar e aprender tornam-se centrais para a análise dos impactos das mídias digitais na educação.
Este painel busca reunir pesquisas que articulem abordagens teórico-metodológicas inovadoras no ensino e na pesquisa com mídias digitais, abordando a etnografia digital, a análise de big data e a interseção das relações de gênero, raça e sexualidade no campo digital. Serão bem-vindas contribuições que explorem os desafios e as potencialidades desse campo recente e em constante transformação.
In person Panel
O campo da Antropologia das Emoções é atravessado por uma clivagem: a existência concomitante entre objetos de pesquisa que abordam as emoções em relação com dimensões da vida individual associadas, no senso comum, à “esfera privada”, tais como o corpo, a sexualidade ou a saúde/doença, e objetos que examinam o papel desempenhado pelas emoções em fenômenos da chamada “esfera pública”, tais como a violência, as instituições, os universos profissionais e a política. O estudo das emoções pode se dar em múltiplas formas da política, como os movimentos sociais, as políticas públicas ou os diversos elementos que compõem processos eleitorais. A proposta desse painel é afunilar essa área de estudos, priorizando propostas que coloquem no centro da investigação o exame do trabalho realizado pelas emoções em três formas da política: a) a polarização política contemporânea e seus discursos e experiências; b) as ações afirmativas e suas configurações; e c) as migrações e seus agentes e redes. A pista que nos orienta ao propor essa aproximação é dupla: por um lado, as posições quanto a ações afirmativas e migrações são linhas demarcatórias capazes de organizar esses campos políticos opostos; por outro - e talvez resida aí sua centralidade para a compreensão da polarização política contemporânea -, são temas cujo debate aglutina perspectivas distintas a respeito da relação com o Outro, essa temática tão nodal para a constituição da disciplina antropológica. Nossa aposta é que o exame conjunto do papel das emoções nesses três fenômenos pode ser profícua tanto para a compreensão dos três fenômenos aqui priorizados quanto para o aprofundamento da reflexão sobre a contribuição possível da Antropologia em um mundo marcado pela convivência paradoxal entre interconexões cada vez mais abrangentes e separações a cada dia mais radicais.
In person Panel
Este painel tem por objetivo debater estratégias de produção e conservação de vidas humanas e outras-que-humanas em territórios sociobiodiversos na Amazônia Legal e outras regiões no mundo. Este painel se enquadra no terceiro eixo da chamada, Itinerancias humanas e não-humanas, pois ao debatermos as terras e os territórios da sociobiodiversidade, não podemos obviar o plantationceno e antropoceno, quando vemos por exemplo o impacto que o cultivo da soja e do agronegocio tem nos territórios tradicionais da amazônia. Terras e territórios que produzem e alimentam humanos e não-humanos, e desde os quais debatemos noções de vida e bem viver, tensionando o neo-extrativismo e chamando as múltiplas relações e relacionalidades que os humanos têm/estabelecem com sua terra-território.
Serão aceitas apresentações que tragam reflexões etnográficas acerca de temas como: sociobiodiversidade, bioeconomia, conhecimento tradicional, agroecologia, agrofloresta, antropoceno e plantationceno. Nos interessará debater o estado da arte desses conceitos à luz das etnografias e das reflexões que camponeses, populações tradicionais, extrativistas, pescadores e comerciantes estão fazendo em relação à sua vida, no meio desses debates. Nos interessa também debater as experiências e os desafios que esses coletivos enfrentam na comercialização de seus produtos, a relação urbano-rural, alternativas econômicas como o turismo de base comunitária, e os produtos florestais não madeiráveis que, têm em sua gênese os conhecimentos tradicionais. De um lado, trataremos de refletir as práticas e saberes em relação à terra, à floresta, às plantas, aos lagos e rios que conferem aos coletivos a capacidade de criar e manter a sociobiodiversidade e, de outro, evidenciar como confrontam, e enfrentam, os projetos econômicos e modelos exógenos de “desenvolvimento”, seja o agronegócio de commodities ou a pecuária.
In person Panel
The way the future is perceived and its impact on the present everyday lives of different populations has been gaining importance in anthropological research (Bryant and Knight, 2019). Within this framework, this panel seeks to explore the particular and multifaceted futures and aspirations of Chinese transnational youth, by examining the dynamic intersections of cultural identity, education, and future aspirations, while engaging with the anthropology of Chinese Transnational Education (Hansen and Thøgersen, 2015) and the connections with national contexts and languages, as in the Portuguese case (Severino, 2024).
We aim to engage with recent research and case studies to better understand the transnational experiences of Chinese youth, particularly how they negotiate their educational journeys and perceive their future trajectories. We welcome scholars with different experiences and methodologies within and communicating with Anthropology to examine the complexities of identity, education and future aspirations, the impact of educational systems, and the broader implications for global education development. Also, considering the efforts for decolonizing knowledge in the portrayal of Chinese youth abroad we encourage contributions from Chinese scholars about their own experiences and particular research on this topic.
Contributions covering the following themes are welcomed:
Transnational Identity Formation: exploring how Chinese youth construct and negotiate their cultural identities, journeys and future trajectories, when straddling multiple national contexts.
Educational Strategies and Outcomes: analyzing the diverse educational pathways Chinese youth pursue, the process of Chinese families decision-making, and the outcomes associated with their transnational educational experiences.
Aspirations and Future Orientations: investigating how aspirations for the future are shaped, evolved, and realized among Chinese youth in transnational settings.
Bryant, R. & Knight, D. (2019) The Anthropology of the Future. Cambrige: Cambridge University Press
Hansen, A. S., & Thøgersen, S. (2015). The Anthropology of Chinese Transnational Educational Migration. Journal of Current Chinese Affairs, 44(3), 3-14. https://doi.org/10.1177/186810261504400301
Severino, C. (2024). Antropologia e Educação Transnacional: migração estudantil chinesa no ensino superior português. Latitudes em Transcurso: estudos em homenagem a Celeste Quintino. Lisboa: ISCSP, pp. 251.
In person Panel
Este painel tem como objetivo promover um diálogo aprofundado sobre as questões de ética e responsabilidades múltiplas na investigação, especialmente no contexto contemporâneo de crescente formalização das injunções éticas. Reconhecemos que a ética, em sua aceção mais ampla, transcende as normativas administrativas e burocráticas, englobando também, e sobretudo, a ética do investigador em seu exercício profissional.
As discussões abordarão uma variedade de temáticas cruciais, incluindo, mas não se limitando a:
• A ética na escolha do objeto de investigação e métodos utilizados. Como os investigadores definem os temas e quais critérios éticos orientam essas escolhas?
• A postura no campo, explorando como as interações e relações durante a investigação podem impactar o objeto de estudo e os participantes.
• O tratamento dos dados, considerando as etapas antes, durante e após a pesquisa. Como garantir a integridade e confidencialidade dos dados e as implicações éticas da sua publicação?
• Relações de poder e extrativismo científico, refletindo sobre como essas dinâmicas podem influenciar a ética da pesquisa nas ciências sociais.
• Independência na produção de conhecimento, levando em conta o tipo de financiamento e o acesso ao campo.
Além disso, podem ser abordadas as especificidades da antropologia no cumprimento dos padrões éticos europeus. A antropologia, historicamente, reflete profundamente sobre a ética no trabalho de campo, mas enfrenta desafios para cumprir as exigências formais dos financiamentos europeus, como consentimento informado escrito, exclusão de crianças, minimização de dados e partilha de dados brutos. Esses requisitos nem sempre se alinham com as dinâmicas imprevisíveis da pesquisa antropológica.
Convidamos investigadores de diversas disciplinas para uma discussão transdisciplinar que enriqueça a compreensão das práticas éticas. O objetivo é refletir sobre como avançar em direção a uma prática de ciências sociais que seja não apenas rigorosa, mas também ética, responsável e consciente de suas implicações. Este painel se propõe a ser um espaço de troca, aprendizado e construção de novas perspectivas éticas na investigação.
In person Panel
Desde a década de 1990, sobretudo a partir da Declaração de Salamanca, de 1994, nota-se um crescimento global de esforços para efetivar as diretrizes da educação inclusiva, isto é, procurar garantir que crianças e jovens com deficiência e com dificuldades de aprendizagem tenham acesso à educação, pública ou privada, condizente com suas condições corporais e mentais específicas. Resultado de críticas aos sistemas educacionais que segregavam alunos tidos como divergentes em escolas especiais, a educação inclusiva também pautou-se, desde o início, pelo ideal de congregar todas as crianças e jovens em idade escolar em escolas comuns.
Nas últimas décadas, antropólogos têm acompanhado a implantação das diretrizes da educação inclusiva. Em contextos diversos e sob diferentes ângulos temáticos, mas pela via da etnografia, nossos colegas vêm pesquisando como sistemas escolares e iniciativas educacionais articularam-se em torno da inclusão escolar. Eles averiguam os processos de avaliação que classificam crianças e jovens como pessoas com deficiência e com dificuldades de aprendizagem, interessados sobretudo nas distinções entre laudos escolares e diagnósticos médicos. Também investigam como marcadores sociais historicamente estigmatizados de raça, gênero, sexualidade, étnicos, religiosos e de origem nacional, relacionam-se com categorizações patologizantes nas escolas. A dimensão cognitivas também é escrutinizada pelos antropólogos quando exploram etnograficamente as pedagogias autointituladas inclusivas: o que faz uma aula ou um curso serem oferecidos como recursos de desenvolvimento de crianças atípicas? Do mesmo modo, como salas de recursos pedagógicos, parquinhos e outros espaços educacionais estimulam sensorialmente crianças autistas ou com déficit de atenção? As pesquisas etnográficas da educação inclusiva também extrapolam as escolas ao indagarem como as famílias dos alunos agenciam suas relações com educadores e com o próprio sistema escolar. Ou, ainda, os modos pelos quais terapias e pedagogias confundem-se no processo de educação de crianças com deficiência e com dificuldades de aprendizagem.
Convidamos todos os interessados em pesquisas pautadas por essas e outras perguntas relacionadas à antropologia da inclusão escolar no mundo lusófono para submeter propostas. Depois de mais de três décadas de esforços para sua implementação, acreditamos que 2025 é um bom momento para fazer um balanço crítico dessas investidas desde a perspectiva etnográfica.
In person Panel
Neste painel pretendemos explorar as dinâmicas partilhadas e/ou contestadas de produção da memória em geografias urbanas pós-coloniais, em particular em bairros da classe trabalhadora e periféricos. As narrativas sobre as histórias de mobilidades e de assentamento dos diversos habitantes das periferias urbanas, produzidas no espaço partilhado e heterogéneo do bairro, produz diferentes perspetivas seja sobre as trajetórias migratórias, suas memórias e identidades, seja sobre as experiências de convivialidade, as quais partem, muitas vezes de uma experiência de perturbação criada pelas relações coloniais.
O bairro, enquanto uma escala marcada pela continuidade entre uma dimensão do mais desconhecido (código da cidade) e do mais íntimo (o morar), emerge neste debate como um lugar próprio no cenário do espaço praticado, no qual a constelação de memórias é constantemente atualizada pelos desafios da precariedade econômica e social, pela intensificação de processos estigmatizantes, mas também pela afirmação de uma pertença cultural e social reposta nestas narrativas.
Tendo esta perspectiva em mente, convidamos a pensar, através da partilha de narrativas etnográficas em bairros suburbanos, sobre as formas de emergência das memórias, seja por narrativas ou por materialidades, e da forma como são ativadas, rearticuladas ou desafiadas.
In person Panel
Francisco Jander de Sousa Nogueira
Universidade Federal do Delta do Parnaíba - UFDPar
jander.sociosaude@gmail.com
Daniel Oliveira Terto
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
daniel.oliveira@outlook.com
Entre os diferentes desafios que surgem das investigações antropológicas, este painel tem como objeto central aqueles que emergem de contextos subalternizados, dissidentes, estigmatizados e de conflitos, colocando assim a etnografia como forma de produção de conhecimento em destaque e, ao mesmo tempo, à prova. Privilegiaremos, neste painel, os estudos e pesquisas onde as instituições de saúde, instituições de educação, instituições com foco na cultura e na segurança pública. Nesse sentido, buscaríamos nos questionar que tipos de agenciamentos e negociações podem emergir destas situações/contextos? Que dispositivos e estratégias são acionadas pelos sujeitos e instituições quando necessários? Como investigadores lidam e como capturam elementos potentes para suas pesquisas? Como traduzem esses conflitos nos textos etnográficos? Além dessas discussões, o painel permitirá uma reflexão metodológica a partir destas experiências sinuosas, dos contextos e práticas de riscos e das diversas estratégias acionadas por pesquisadores/as durante a suas pesquisas de campo.
In person Panel
Sustainability has long become a keyword in policy making, activism and common parlance around the world. Mainstream definitions often involve the threefold vision of balancing the environment, the economy and society, or the UN’s more specific seventeen Sustainable Development Goals. However, since its emergence, academics have also criticized the notion of sustainability for its vagueness and its all-purpose and ambiguous uses. The aim of this panel is not so much to add to the engaged critiques of the partiality (in the double sense of incompleteness and bias) of mainstream sustainability, but to consider all sustainability claims as partial, yet performative, framings of the world. The panel thus aspires to gather different, competing framings of sustainability within and across ethnographic case studies and reflect on their divergences and (potential) interactions.
What exactly do we mean by framings? We consider sustainability claims to rely on specific orderings of the world which include relevant entities, agencies, relations, values, scales and temporalities. Sustainability claims make sense and offer meaningful action within frames thus established. Whether through government strategies, infrastructure projects, corporate discourse or civil society activism, among other possible topics, sustainability claims produce specific contextual and conceptual framings with worlding effects. However, any such framing involves implicit acts of inclusion and exclusion, allowing critics to object to it in the name of the excluded. Sustainability thus appears as an always partial framing aiming to sustain itself.
We welcome papers that ethnographically examine sustainability initiatives, their partial framings of the world, their contestations and effects. What is to be sustained in specific cases, how and by whom? How is nature, society and the human framed and reframed? We also invite participants to critically assess the notion of framing itself – for example by taking into consideration Michel Callon’s (1998) work inspired by Goffman’s frame analysis or Timothy Mitchell’s (1988) and Andrew Pickering’s (2008) uses of the Heideggerian concept of enframing – and reflect on its potential as an analytic of sustainability.
In person Panel
Hospitals and caregiving practices have been central to human societies for centuries, evolving in response to changing medical knowledge, social norms, and public health challenges. From ancient healing sanctuaries and medieval infirmaries to modern hospitals, these institutions reflect broader cultural, political, and economic contexts, shaping how societies have approached health and illness. By examining material evidence, skeletal remains, historical documents, and social practices, researchers can uncover the complex ways in which medical infrastructures, caregiving roles, and healthcare policies have developed over time. This exploration not only illuminates past approaches to health and healing but also offers critical perspectives on current and future healthcare systems, as many of the challenges faced in the past—such as disease outbreaks, resource allocation, and social inequalities—remain relevant nowadays. Through this lens, the study of hospitals and care across time provides a vital framework for understanding how societies have navigated the intersection of health, culture, and public welfare.
This session invites scholars from a range of disciplines to explore the evolution of hospitals and healthcare systems throughout history, focusing on the cultural, social, and biological dimensions of care. By adopting a multidisciplinary approach, we seek contributions that examine how medical institutions and caregiving practices have developed across diverse societies, time periods, and geographic regions.
In person Panel
This panel proposes an interdisciplinary reflection on human movements and transformations, integrating approaches from bioarchaeology and forensic anthropology to analyze how mobility dynamics have shaped both past and present populations. Human displacements, whether due to voluntary migrations, forced relocations, conquests, or trade routes, have a significant impact on the biosocial structures of populations. This panel invites researchers from various fields to examine these phenomena from a broad perspective, combining the analysis of human skeletal remains with the cultural interpretation of archaeological and forensic contexts.
Bioarchaeology provides essential tools to understand patterns of mobility, health, diet, and other key aspects of past populations, while forensic anthropology offers a contemporary view on displacement processes and their consequences, particularly in contexts of violence and humanitarian crises. The intersection of both disciplines allows not only the tracing of the origins and destinations of populations but also the analysis of the sociocultural impacts of these movements.
The topics to be addressed include the study of past migrations through osteological analysis and the use of new tools and methodologies, among other approaches. By linking the past with the present, this panel seeks to reveal the continuities and transformations in human mobility patterns, demonstrating how knowledge of past populations can help understand contemporary migratory dynamics.
Finally, the ethical challenges involved in the investigation of human remains, both in bioarchaeological and forensic contexts, will be addressed, reflecting on the role of researchers in constructing narratives of both past and contemporary events. This interdisciplinary discussion aims to enrich the academic debate on human mobility and social transformations across multiple eras and contexts.
In person Panel
Portugal has long been regarded internationally as a hospitable country for migrants. Scholars described the country as a “trampoline” (Vigh 2016) on the migration journeys of many coming from Africa, Latin America, and Asia, who see Portugal as an entry point to secure regular European residence permits, due to the relatively accessible regularization pathways Portugal has historically offered compared to other Western European countries. Yet, for numerous migrants, their stay in Portugal is perceived rather as transitional—a stop before moving on to wealthier European countries, or as a base for circular mobilities across Europe and beyond.
However, the dominant narrative of “goodwill” and “openness”, often promoted by Portuguese governments, obscures realities of systematic violence, detention and deportation (Vacchiano, 2019). The brutal killing of Ihor Homeniuk in 2020 within an airport detention center stands as the most evident episode of state violence against migrants. Following this event, the Portuguese border authority SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), held responsible for Homeniuk’s death, was dismantled. Responsibilities for document processing were transferred to the newly established AIMA (Agência para a Integração Migrações e Asilo), while repression measures were delegated to the police. These changes, together with the new immigration law enacted in June 2024, which further restricts regularization pathways for many undocumented migrants currently in the country, signify another shift in Portuguese migration policy.
In recent years, migrants have reported extended waiting times—often over two years—for regularization, along with frequent denials of service from public hospitals and other institutions. Despite regularization possibilities having been recently abolished, many still choose to come to Portugal, as it is viewed as having a comparatively more accessible immigration regime than other European countries. Amid all these transitions, is Portugal shifting from a “trampoline” for migrants to a “trap”?
Vacchiano, F. (2019) Camouflaging borders: relocation, neglect and disciplines of emplacement in Portugal. In: International Journal of Migration and Border Studies, 5(4): 273-291.
Vigh, H. (2016). "Life’s trampoline: On nullification and cocaine migration in Bissau". In: Affective Circuits: African Migrations to Europe and the Pursuit of Social Regeneration: 223-44.
In person Panel
Os pilares da modernidade (que separa natureza de cultura) continuam a sustentar ações dos governos e de corporações econômicas, mesmo que se mostrem contrárias à evidência científica sobre a forma como terra, humanos e extra-humanos integram uma dinâmica sistêmica. Grandes corporações econômicas, nomeadamente as que têm investido na floresta industrial, a extração mineral em larga escala, entendem a natureza como força ao serviço do capital e do desenvolvimento. Esta visão alterou paisagens de diversas formas. A monocultura é uma dessas alterações que implica uma “simplificação ecológica” contrária à viabilidade de vida humana e extra-humana. Historicamente a monocultura implica expulsão e expropriação de relações multiespécie gerando “paisagens em ruína”.
Investigações sobre locais que guardam a história das distintas possibilidades de habitabilidade, de relações entre humanos e extra- humanos, de pluriverso, de confluência e que nesse sentido possam ser concebidas como indigenização do moderno, interessam particularmente para demonstrar contextos históricos de relacionalidade, de diversidade e de possibilidades de ressurgências holocénicas.
Este painel pretende dialogar sobre as possibilidades de restauração florestal em paisagens impactadas por monoculturas, extrativismo predatório, uso indiscriminado de agrotóxicos e outras ações de grandes corporações que afetam de maneira significativa as paisagens, gerando ruínas e como os povos, comunidades, cooperações tem se articulado na (re)construção de outros mundos possíveis.
In person Panel
The notion of “itinerancies” captures the dynamic processes of movement, circulation and exchange that shape both social realities and intellectual landscapes. This panel proposes a novel exploration of “itinerancies” within a plural history of anthropology, examining the concept from two intertwined perspectives. First, we invite scholars to analyse past anthropological approaches and methodologies that engaged with social and cultural mobilities, circulations, and borrowings, including anthropologists producing knowledge in-between locations, employing border-crossing perspectives and collaborative methodologies that emerged to bridge spatially or otherwise distant settings and fostered a shared understanding with their ethnographic collaborators and mediators — or with institutional stakeholders. This exploration will encompass diverse theoretical frameworks and ethnographic studies that have sought to understand human movement — including the transmission of things created or imagined, of plants and non-human animals, of practices and knowledges — and its impact on cultural and societal formations. Second, we invite scholars to turn their lenses inwards, investigating analogous or similar phenomena within the history of anthropology itself. This will involve tracking and tracing the movement of ideas, scholars as well as theories and methodologies across geographical, intellectual and linguistic boundaries, challenging the multifarious political and epistemological hierarchies in anthropological traditions and highlighting the complex and often overlooked flows that have shaped anthropological knowledge production. By juxtaposing — and relating — these two forms of “itinerancies”, the panel aims to challenge dichotomous or simplistic terminologies and identifications. Papers to critically examine concepts such as North/South, West/East, centre/periphery and reveal their limitations in capturing the nuanced realities of movement and exchange within the discipline’s historical landscapes are specially welcomed. Ultimately, the panel seeks to foster a more systematically dynamic and interconnected understanding of the histories of anthropologies, one that recognises fluidity and multi-directionality as fundamental in the intellectual journeys and (im)material embodiments of anthropological actors.
In person Panel
Durante as últimas duas décadas, o debate sobre a dimensão pública da antropologia tem ganho força. Surgido inicialmente na academia norte-americana, o debate sobre a “antropologia pública” veio expandindo o seu alcance no contexto internacional, interagindo com maneiras diferentes de interpretar o papel público da disciplina. Ao mesmo tempo, a discussão sobre antropologia pública — o que é ou não é — veio sobrepor-se — por vezes de forma antagónica, mas nem sempre esclarecida — com a prática mais duradoura e já institucionalizada da antropologia aplicada. De facto, tanto a questão dos usos públicos da disciplina como o papel d@s antropolog@s no espaço público têm acompanhado o desenvolvimento da disciplina e a sua institucionalização. No entanto, as mudanças profundas que marcaram a produção do conhecimento, o seu estatuto social, as formas de financiamento, sempre mais viradas para a sua “utilidade” pública, as formas expressivas e estilísticas (por exemplo, o impacto das tecnologias digitais), bem como novas tensões entre ciência e intervenção pública, parecem redefinir o cenário de identificação ou definição da dimensão pública da disciplina.
Este painel propõe-se mapear e debater questões relacionadas com a dimensão pública da antropologia, as suas possibilidades e declinações, as maneiras de a entender, interpretar e praticar, em diálogo com os debates sobre — e as experiências de — antropologias aplicadas, engajadas e militantes, dentro e fora da academia. Tendo como base a necessidade de um confronto aberto sobre o papel público da disciplina e a sua capacidade de contribuir à construção de saberes críticos no espaço público, convidamos intervenções que abordem, entre outras, as seguintes questões:
— qual é o espaço público da antropologia, come se define/articula?
— experiências e perspetivas de antropologias aplicadas, engajadas e militantes;
— interpretar e praticar o papel público da antropologia: que potencialidades e limitações?
— críticas, desafios institucionais e sociais pela antropologia pública: do financiamento às relações interinstitucionais;
— antropologia e ação política — do ativismo aos partidos políticos: que relações?
— o papel da teorização antropológica na dimensão pública;
— antropologia e os media: da colaboração ao conflito;
— antropologia pública e os públicos da antropologia: quem nos lê/vê/ouve?
— a antropologia fora da academia: experiências, desafios, interseções, possibilidades.
In person Panel
Nas últimas décadas, acompanhando viragens teóricas e metodológicas na antropologia [virada gráfica (Ingold 2011), artística (Schneider e Wright 2013) sensorial (cf. Pink 2009) e abordagens multimodais (Collins et al 2017)], o desenho tem-se reafirmado progressivamente tanto enquanto ferramenta, como enquanto objeto de análises antropológicas. Ao dedicar-se sobre cruzamentos históricos e contemporâneos entre a pesquisa etnográfica e os usos do desenho na antropologia, este painel propõe-se refletir criticamente sobre esta técnica, com o objetivo de mapear os seus usos e analisar as suas múltiplas capacidades heurísticas e estéticas em diversas fases da pesquisa antropológica, como a observação, a recolha, a produção e a comunicação de dados etnográficos.
Nesse sentido, convidamos a apresentação de trabalhos em torno dos seguinte tópicos: análises e enquadramentos dos usos do desenho na antropologia ao longo da história da disciplina e seus respetivos regimes de visualidade; análises sobre experiências de institucionalização do desenho na disciplina (i.e: experiências de integração letiva do ensino do desenho no currículo de formação em antropologia); estudos de caso empíricos testando possibilidades do seu uso na pesquisa antropológica; reflexões metodológicas sobre o fazer desenho na antropologia, tendo em conta múltiplas possibilidades de colaborações entre diversos agentes (artistas, profissionais da antropologia, seres humanos e mais que humanos) envolvidos na feitura destes registos; análises sobre a versatilidade de desenhos resultantes da criação e comunicação do pensamento antropológico, focando tanto a natureza do desenho em si, como a forma como este pode ser articulado com o texto e com outras grafias para a comunicação do trabalho final de pesquisa; reflexões sobre as capacidades heurísticas desta ferramenta corpórea, situada e pouco mediada, num contexto de uma multiplicidade de dispositivos de criação de imagem, incluindo a generativa.
Aceitamos propostas em Português, Espanhol, Francês e Inglês.
Painel presencial.
Bibliografia:
Collins, Samuel Gerald, Matthew Durington e Harjant Gill 2017 “Multimodality: An Invitation” in American Anthropologist vol. 119: pp. 142-153
Ingold, Tim 2011, Redrawing Anthropology Materials, Movements, Lines, London: Routledge
Pink, Sarah 2009, Doing Sensory Ethnography, London: Sage
Schneider, Arnd e Christopher Wright 2013, Anthropology and Art Practice, London: Routledge
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O modelo antropocêntrico de pensamento tem considerado a natureza, os humanos e os não humanos como formas de vidas dicotómicas e separadas promovendo frequentemente um afastamento. No entanto, na atualidade, esse pensamento está em contestação. Este painel tem como proposta debater a relação entre o humano e a natureza, numa perspetiva antropológica através da chamada virada ontológica, que poderá ajudar a compreender o humano e a natureza como seres pertencentes a uma mesma essência, superando as separações colocadas pelas culturas ocidentais. Dessa forma, destacam-se as possíveis cosmovisões e conhecimentos que promovem esta conexão, em especial no âmbito da espiritualidade, seja nas práticas, rituais, cerimônias, vivências, retiros e experiências transcendentais com substâncias/plantas de poder.
Buscamos com este painel ampliar os diálogos sobre os diversos olhares através das pesquisas realizadas no âmbito científico, corroborando para o entendimento acerca do protagonismo que estes seres não humanos têm em relação a vida humana e as possíveis transformações de consciência, seja mentais, espirituais e físicas dentro de um cenário mundial. Também importa dentro deste painel abordar as mudanças dos padrões de clima e crises ambientais, que se abrem para o debate sobre a agencialidade dessas entidades não humanas com habilidades de cura, expandindo-se para outros territórios e promovendo uma difusão de conhecimentos e culturas. Nesse universo, incluem-se os saberes tradicionais dos povos originários, especialistas xamãs e outros atores nas recorrentes transformações causadas pela globalização, pós-colonização e outros paradigmas mundiais.
Quem são esses atores? Como se dão estas relações? Quais mudanças/transformações podem estar ocorrendo no mundo a partir desta “nova era”? Quais contribuições a antropologia pode oferecer sobre estas relações entre o humano e natureza? Como ocorrem estas conexões a partir da espiritualidade? Como ecoam as vozes das plantas, dos povos originários, lideranças, e outros atores dentro desta cosmovisão? Assim, as comunicações que abordem estes temas e outros temas afins, terão um lugar especial dentro deste painel para se ampliar o diálogo, e amadurecer discussões dentro deste universo tão ancestral.
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Nas últimas décadas, desafios socioambientais têm marcado quotidianos e
itinerários humanos e mais-que-humanos. As transformações capitalistas do
ambiente e políticas neoliberais que promovem conflitos ambientais
(Apostolopoulou, Cortes-Vazquez 2019; Tsing 2015) , juntamente com o
agravamento das crises ambientais que não só marcam alterações nos ambientes
em que humanos e não-humanos se movem, como ilumina distinções com base em
poder, género, classe, acesso e novas injustiças (Federici 2018; Harcourt ,et al.
2023) , têm gerado prementes questionamentos, considerações e clamores para
ação sobre o que e como resistir a estes desafios, e suster o presente e o futuro.
Estes mesmos clamores têm enriquecido o campo da Antropologia Ambiental, que
se mostra comprometida e nos tem trazido importantes reflexões e exemplos,
provenientes das mais diversas latitudes e territórios.
As respostas a estes desafios produzem, assim, complexos e criativos itinerários de
ação, reformulação e resiliência, tanto a nível local como global, que proporcionam
conforto perante a incerteza e vulnerabilidade sentidas, tornando-se formas de
resistência. Perante estes desafios, complexidade e criatividade, que itinerários se
criam e podem ser criados em relação com o mais-que-humano? Que formas de
resistência locais emergem? Como estão as pessoas a relacionar-se com este
presente e futuro? Que contributos a Antropologia Ambiental comprometida tem a
oferecer e quais são os seus limites?
Este painel, organizado pela Rede Ibérica de Antropologia Ambiental, convida
propostas de carácter etnográfico, teórico e metodológico, que abordem estas
questões e reflitam as itinerâncias humanas e mais-que-humanas no e com o
ambiente, a partir das diversas temáticas que se entrelaçam com a Antropologia
Ambiental, como a antropologia e relações multi-espécie; os diversos “-cenos”:
Antropoceno, Capitaloceno, Plantationceno; lutas sociais e políticas; extrativismos,
mineração e transição energética; vidas marítimas e costeiras; mobilidades e
deslocamentos; religiosidade; arte; e género. Outros temas que se alinhem e
dialoguem com o painel serão bem-vindos. As propostas de comunicação podem
ser apresentadas em português e espanhol.
In person Panel
Considerando, em primeiro lugar a temática Itinerâncias proposta para o IX Congresso APA-2025, na linha 2: Caminhos, passagens, deslocamentos –“Trânsitos e experiências artísticas”, e em segundo lugar, o movimento de pensamento possível, nas relações entre as artes, a antropologia, a história e a filosofia, proposto pelas pesquisadoras da linha de pesquisa do Grupo Interdisciplinar de pesquisa em artes (GIPA), propomos o Simpósio Itinerâncias, Passagem, Herotopias, Não-Lugares: Imaginar outros mundos possíveis, nas Artes. Este tem como objetivo abrir espaço para a tentativa de imaginar outros mundos possíveis no campo das artes (cinema, literatura, artes visuais, entre outros), nos interditos, nas possibilidades de recusa, resistências, e atualização, especialmente no que se refere à invisibilidade, ao anonimato, à não-identidade, a não-relação, as invisibilidades de itinerantes nos lugares e nos espaços. O espaço foi e é considerado importante em muitos estudos, em diferentes áreas, entretanto a noção de heterotopia, que vem de hetero: outro e topos: lugar, foi definida como uma localização física de utopia. O termo foi cunhado pelo filósofo Michel Foucault, e ajuda a perceber que em um só lugar real vários espaços são possíveis, e por vezes incompatíveis. Em algumas obras de teatro, de cinema, de literatura, os espaços podem desvelar heterotopias. Os espelhos, por exemplo, são considerados por Foucault uma experiência mista, mediana entre a utopia (modelo ideal) e a heterotopia (modelo real). O antropólogo Marc Augé ao tratar do conceito de não-lugar não opõe esse ao termo espaço, mas como lugar antropológico, ou seja, de sentido inscrito e simbolizado. Levando em conta a noção de itinerâncias, passagens, heterotopias, e de não-lugares, noções essas discutidas por esses autores, mas também por Walter Benjamin, Georges Didi-Huberman, Giuliana Bruno, entre outros contemporâneos, espera-se que nesse simpósio as reflexões contribuam para ampliar as discussões sobre as itinerâncias em seus múltiplos desafios.
Palavras-chave: Itinerâncias; passagens, herotopias; não-lugares; artes.
In person Panel
Este painel desafia a reflexões e debates em torno das metodologias e práticas que estão na base das interações e trocas culturais promovidas por experiências artísticas de base local. O painel tem como objetivo explorar práticas artísticas itinerantes (exposições, residências artísticas, workshops e outros formatos) que envolvam atores de diferentes práticas e domínios científicos e que tenham como referência comunidades locais, configuradas por uma relação espaço/identidade.
Pretende-se envolver antropólogos, artistas e dinamizadores culturais na discussão de como as experiências artísticas, na sua diversidade, podem ser vistas enquanto campos de negociação cultural, agenciamento e produção de uma compreensão mais profunda dos contextos contemporâneos de mobilidade e interculturalidade. A perceção e avaliação dos múltiplos efeitos gerados localmente por essas experiências artísticas é igualmente um objetivo a alcançar.
Procura-se responder a questões como:
• Quais os impactos das experiências artísticas na criação de novas formas de diálogo intercultural?
• De que forma as comunidades beneficiam dessas trocas e partilhas culturais?
• Podem as práticas artísticas de base local reconfigurar identidades e relações de pertença das comunidades envolvidas e promover a inclusão, a diversidade e o empoderamento das comunidades?
• Quais são as boas práticas para envolver as comunidades e garantir que as experiências artísticas sejam mutuamente enriquecedoras?
Encoraja-se a participação de intervenientes vindos de várias áreas de conhecimento e a preparação de apresentações em formatos diversos, como pequenos filmes e ensaios visuais.
In person Panel
A panel proposed on Itinerances of Harm would fit neatly under the three thematic lines proposed in the Congress.Itinerances may refer to the movement and displacement of people, goods, ideas, representations, categories and practices across various and distant spaces and boundaries. The concept may be useful in exploring how different actors, objects and harms circulate in the global arena, both being informed by and shedding light on colonial legacies, political economies, trade, migration flows and local agencies.
The concept allows us to explore how these dynamics are not neutral or balanced, but loaded with power dynamics. They shape local experiences and determine structural conditions in local communities. When looking at harm, one might investigate how harm/damage/impact from extractivist activities, from environmental governance, or from dictating fiscal policy, shifts from one region to another, often with a focus on the global North to global South dynamics. Itinerances of harm underscores the idea that harm and crime are not static and inflexible but are mobilized or displaced following the agendas of global actors, and often reinforcing inequalities. It is equally informative in analyzing emerging tacticalities and navigation paths, either resilient, resistant or subversive.
In discussions of environmental governance, transnational crime, or migration flows, the lens of itinerancy can also act as a prism to the way global categorizations and regulations externalize costs onto vulnerable populations, underscoring how “itinerant harm” becomes embodied in global economic, environmental and regulatory policies.
The panel would invite proposals with a strong emphasis on ethnographic approaches on established and emerging flows in which harm can travel. Transnational criminal networks, smuggling routes, illicit trade involving different goods and substances,criminalized migration flows - and all their entanglements with licit and formal routes.The panel would benefit from application regarding fieldwork conducted in diverse locations, and in itself incorporating a multi-sited perspective, although these would not be required.
The panel would be coordinated by Dr. Henrik Vigh (https://anthropology.ku.dk/staff/professor-and-associate-professor/?pure=en/persons/91300), from the University of Copenhagen, and by António Castelo, an Anthropology PhD student in the ICSTE/FCSH-NOVA program and a CRIA member.
In person Panel
Nas últimas três décadas, o desenho, sob a forma de livros ilustrados ou de novelas gráficas, deixou de estar confinado a um nicho específico de leitores-amantes e tem vindo, progressivamente, a delinear o seu espaço em domínios como o da antropologia contemporânea. A partir da sua dimensão representacional, evocativa e experimental, o desenho transformou-se não apenas num “alívio semântico” (Causey 2016), mas sobretudo numa ferramenta de “tradução etnográfica” (Bonanno 2019) de experiências indizíveis, ou seja, dos registos, processos e afetos que envolvem o etnógrafo e os terrenos em que trabalha, e que nem sempre a linguagem académica consegue traduzir. O uso do desenho na prática etnográfica e na investigação antropológica veio salientar, ainda, a sua qualidade analítica, já que se revelou uma ferramenta útil na produção e divulgação de conhecimento (Sarcinelli et al. 2022). O crescente número de trabalhos de pendor etnográfico que exploram e expressam uma dimensão gráfica, bem como a diversidade de possibilidades de trabalho que tal dimensão veio suscitar na aplicação do método etnográfico consubstanciam, pois, o que Grimshaw e Ravets denominaram “viragem gráfica” (2015).
Paralelamente, são cada vez mais numerosos os modos de aplicação do saber antropológico e do fazer etnográfico na produção visual contemporânea comprometida com os contextos culturais, históricos, políticos e sociais, e com um entendimento cuidado sobre as complexas dissonâncias do mundo.
Este painel pretende, assim, explorar a diversidade de camadas que consubstanciam a relação entre a etnografia e o desenho. Acolhem-se estudos que tratem: percursos históricos e teóricos do trabalho colaborativo entre a etnografia e o desenho; a expressão gráfica na ligação com os terrenos de investigação (o uso do desenho enquanto forma de contextualização da investigação e registo de dados e processos que ocorrem no campo, enquanto metodologia participativa, ou como dispositivo de reflexão e posicionamento do investigador, para além da diversidade de contornos que o seu uso adquire na divulgação de resultados); o trabalho conjunto desenvolvido por antropólogos e artistas; as convergências de perspetivas e de olhares entre a etnografia e arte (o etnógrafo como desenhador / o desenhador como etnógrafo).
In person Panel
Face às diversas crises socioeconômicas, políticas, ambientais e de saúde que têm assolado a vida das pessoas, o papel da religião e da espiritualidade tem sido premente para dar respostas a esses desafios. Desde o reencantamento do mundo que habitam por meio de vias espirituais e ativistas (Federici 2018), passando pela promoção de abordagens distintas em relação ao corpo e à sua identidade (Fedele, Knibbe 2020), até abordagens terapêuticas, de saúde e de conexão com o sistema biomédico (Pierini 2018; Pierini, Groisman, Espírito Santo 2023), esses caminhos religiosos e espirituais são identificados através de processos que promovem a cura e o bem-estar individual, estendendo-se além desses, englobando questões políticas e ambientais.
Marcados por fluidez e elasticidade, estes itinerários podem ser considerados transreligiosos (Panagiotopoulos, Roussou 2022), desafiando as fronteiras demarcadas entre o religioso e o espiritual, o político, o biomédico, o ambiental, e também as formas como fazemos antropologia e etnografia.
Tendo como base diversos contextos e vivências etnográficas, e tendo presente esta ideia de fluidez, pretendemos refletir sobre quais itinerários e reconfigurações religiosas e espirituais esses desafios criam; que resistências emergem; que reencantamentos ocorrem; qual a conexão dessas práticas espirituais e terapêuticas com os sistemas de saúde convencionais; quais cruzamentos entre a religiosidade, o político e o ambiental emergem nesses itinerários vivenciais; e de que modo formas contemporâneas de vivenciar o sagrado interagem com a prática antropológica.
Este painel, proposto pelo Projeto ReSpell – Religião, Espiritualidade e Bem-estar: Uma Abordagem Comparativa de Transreligiosidade e Crise no Sul da Europa (financiado pela FCT, ref. 2022.01229.PTDC), procura debater esses itinerários e cruzamentos religiosos, terapêuticos, políticos e ambientais, convidando a contribuições etnográficas, metodológicas e teóricas que dialoguem com a proposta do painel, vindas ou não do campo da Antropologia da Religião, e que se debrucem sobre as seguintes linhas temáticas: identidades em mudança; peregrinações; emoções e corporalidades; itinerários terapêuticos; reconfigurações religiosas e espirituais; género; relação com o ambiente; lutas sociais e políticas; trânsitos e experiências artísticas. Propostas que não se incluam nessas linhas temáticas, mas que dialoguem com o painel, são bem-vindas.
Línguas aceites: PT, ES e EN.
In person Panel
Propõe-se a analisar a interface entre a antropologia e o direito a partir de um ponto de vista etnográfico e focado particularmente nas representações de justiça, cidadania, violência e criminalidade no contexto nacional e internacional. O foco, contudo, se voltará principalmente para a interação entre o Brasil e Portugal e para as relações de continuidade e descontinuidade entre os dois países em relação às suas práticas institucionais de administração de conflitos e percepções locais sobre os sensos de justiça e de criminalidade.
A partir de um diálogo transnacional, multidisciplinar e focado em pesquisas empíricas, sobretudo de cunho etnográfico, pretendemos analisar processos de articulação entre os ordenamentos jurídicos e as práticas sociais; refletir sobre as formas de acesso e de distribuição de direitos; os mecanismos de controle dessas práticas, seja em suas formas institucionais (atuação policial, tribunais, prisões, políticas de segurança) ou de práticas não institucionalizadas e as dinâmicas e sensibilidades locais produzidas nesse encontro.
A proposta é, igualmente, refletir acerca dos dilemas éticos, morais e políticos envolvidos nas pesquisas sobre o tema. E identificar, ainda que inicialmente, como a antropologia brasileira e a antropologia portuguesa têm pensado a questão e os desafios em realizar pesquisas em contextos marcados pela violência, pelo perigo e/ou pelo segredo (geralmente). Desse modo, acredita-se que este painel poderá ser uma ferramenta importante não somente para pensar nessas questões urgentes e desafiantes no contexto contemporâneo, assim como também para fomentar as trocas acadêmicas entre os dois países no que concerne aos temas e debates suscitados neste painel e para além dele.
In person Panel
Neste painel sugerimos uma reflexão transdisciplinar sobre a importância dos elementos e factores abióticos no âmbito de uma antropologia da vida, mais-do-que-humana, não representacional. Num momento epistemológico e político da vida social e das ciências sociais no qual todos e tudo contamos, porque reconhecemos emaranhamentos cruciais a vários níveis existenciais, parece-nos importante pensar como os elementos e factores abióticos influenciam e impactam a vida das pessoas, e dos outros elementos bióticos, assim como os processos e actos de conhecimento dos antropólogos e outros investigadores em contextos de pesquisa, como são representados nos produtos de conhecimento criados, e o que nos podem transmitir. A consideração de uma antropologia mais-do-que-humana no âmbito do domínio biótico tem já um caminho bem trilhado. Fungos, bactérias e animais não-humanos há muito que têm espaço de consideração na disciplina. Mas sobre o domínio do abiótico? Como pensar desde e com as pedras, os rios, o vento? Como influenciam e/ou determinam vidas humanas e não-humanas de níveis mais sensório-experienciais a outros mais biológico-existenciais, passando por níveis simbólicos? Se é certo que numa antropologia da paisagem, do simbólico e estrutural, esses elementos têm sido abordados por via das diferentes apropriações antropomorfizantes, interessa-nos mais aqui pensar o seu potencial agencial per se. Como nos podemos e temos ‘aproximado’ a esses elementos? O painel está aberto a contribuições cujas investigações subjacentes tenham esses elementos como objectos de estudo/trabalho assim como convidamos autores e criadores a revisitar trabalhos passados e apresentar evocativamente esses elementos.
Metodologia: o painel será ao ar livre, em modelo de seminário caminhado com paragens em locais que o próprio caminho suscitar. A serendipidade será igualmente de considerar na proposta de organização das apresentações, assim como consideramos a possibilidade de propostas exclusivamente não-verbais com recurso a apresentações com sons, imagens, corpo ou que convidem à contemplação e à experiência sensorial não comentada. Prevê-se ainda a organização de uma exposição que dialogue com esta temática, em articulação com o painel «Antropologia, arte e ambiente - Práticas indisciplinadas».
In person Panel
A temática Itinerâncias proposta para o IX Congresso APA-2025, na linha 2: Caminhos, passagens, deslocamentos – “Trânsitos e experiências artísticas”, é inquietante e nos faz pensar em passagens, em história, literatura, educação, arte e em como elas mobilizam deslocamentos. A história é objeto de uma construção que tem lugar não no tempo vazio e homogêneo, mas no repleno da atualidade. “E assim como os próprios bens culturais não estão livres da barbárie, também não o está o processo de transmissão com que eles passam de uma para outra” (Benjamin, 1991, p. 157). Benjamin escreveu sobre o tempo do durée (duração), um jetzzeit (agora), o instante que interrompe o continuum da história. E é nele também que os deslocamentos entre literatura, arte e educação acontecem como uma perspectiva de estudos comparados. Assim, o objetivo deste painel é discutir sobre pesquisas que mostrem as possibilidades de deslocamentos, seja pela literatura, pelo cinema, pela educação ou pela arte. Bourriaud, por exemplo, nos impulsiona a pensar sobre a importância da relação estética, os deslocamentos e as passagens propiciados na prática artística com a música. A arte “dá lugar”, antropologicamente falando. O exemplo mais simples e claro que se poderia propor é o de Marcel Duchamp na década de 1910, que move um objeto do cotidiano para a galeria. A arte, portanto, faz deslocamentos quando mistura os registros visíveis e invisíveis. Ou seja, a arte, mais do que uma marca da sociedade a que o sujeito pertence, desloca porque carrega consigo os vestígios de todos os estados anteriores da civilização humana. Cada artista cria diferentes deslocamentos como um elemento ativador de memórias, conexões e descobertas. Vale lembrar Benjamin mais uma vez quando afirma que um acontecimento vivido é finito, mas, um acontecimento lembrado é sem limites, assim como uma chave para acessarmos tudo que veio antes e depois (Cf. Benjamin, 1987).
Palavras-chave: Educação; artes; literatura; cinema; Benjamin
In person Panel
Nas diversas circunstâncias de vida, os atores sociais utilizam as suas condições materiais e imateriais em função dos problemas e dificuldades aos quais estão submetidos. Perante situações de doença, aflição, mal-estar os indivíduos traçam itinerários terapêuticos na busca da recuperação da saúde, a partir das opções terapêuticas tomadas. Estas são influenciadas por fatores que decorrem de múltiplas lógicas sociais, atribuídas quer a causas estruturais quer a causas conjunturais (de que é um exemplo a relação com o sistema de saúde). Em contextos de pluralismo médico esses itinerários produzem no contacto com os sistemas de saúde diferentes experiências de vida e de lugares. Qual a relação entre lugares de saúde e sistemas médicos? O que orienta as escolhas terapêuticas? Que saberes estão em jogo? Que corpos se produzem e ou experienciam? Que visões de mundo coexistem?
Neste painel pretende-se discutir itinerários terapêuticos percorridos em busca da saúde e ou alívio do mal-estar em diversos contextos etnográficos, identificando como se constroem lugares de saúde por relação às experiências e sentidos atribuídos a esses lugares, aos sistemas médicos e aos contextos sociais e políticos em que estes se produzem e vivem. Gostaríamos ainda de explorar conjuntamente trabalhos que tematizem o ‘pluralismo terapêutico’ e ‘corpos plurais’ em contextos etnográficos variados.
In person Panel
Time capsules, recriações históricas, visitas ao património, aos arquivos, romances de ficção científica, campanhas eleitorais, ativismo ambiental, previsão do futuro e astrologia, ex-votos, oráculos, ou ainda mesmo submissão de candidaturas a empregos (ou a financiamento projetos de pesquisa) formam uma categoria de práticas que implicam deslocações, dinâmicas, idas e voltas entre o passado, o presente e o futuro.
A tradição da antropologia do tempo e das temporalidades (Fabian 1983, Munn 1992, Gell 2001, Appadurai 2013, Godinho 2017) é uma linha de reflexão nunca interrompida da disciplina. Autores, monografias e investigações coletivas entrelaçam campos teóricos e áreas geoculturais diversas, mas ficam por vezes espartilhadas nos quadros de campos disciplinares, temáticos, regionais ou sociais que as produzem: os estudos arqueológicos ou museológicos analisam a cultura material e seus displays, a antropologia das religiões trata dos rituais, os Cultural Studies partem das produções literárias e da estética, os Critical Heritage Studies revolvem as políticas públicas relativas ao passado, ao mesmo tempo que a análise das transformações sociopolíticas investiga os fluxos monetários e de status sociais... E se a história tem sido pródiga em problematizar a construção do passado, e exista uma produção emergente significativa sobre Antropologia do futuro, dificilmente se encontram aproximações etnográficas e comparativas dos modos como os humanos se projetam numa outra temporalidade ou se confrontam com vestígios antigos ou formalizações do porvir, seja simbolicamente, seja materialmente.
Esperam-se contribuições etnográficas que examinem as viagens que humanos realizam no tempo e as máquinas que os mesmos usam para ir ao encontro de tempos outros, nas suas dimensões materiais, simbólicas, sociais, económicas ou científicas. Procuramos assim esclarecer as aspirações, os determinismos e as consequências desse tipo singular do turismo temporal para cuja análise a antropologia tem as ferramentas etnográficas e concetuais necessárias.
In person Panel
Inspiradas pelo tema geral do simpósio, a nossa proposta de GT explora conexões entre memórias, repertórios identitários e patrimoniais. As demandas por reconhecimento de identidades não hegemónicas têm sido acolhidas no seio dos debates em torno das memórias coletivas e dos patrimónios culturais, desde há algumas décadas, com maior ênfase nos últimos anos. Isto porque, sendo uma das facetas tangíveis de feridas coloniais, que reverberam nas colonialidades contemporâneas, os patrimónios tornam-se um lugar de disputa onde memórias divergentes enfrentarão a batalha sobre a narrativa que prevalecerá em espaços públicos, museus, centros culturais, livros didáticos, hinos, bandeiras e brasões. Neste contexto, as políticas e as práticas dos patrimónios têm sido desafiadas pelos movimentos sociais a oferecerem respostas que resultem não apenas em representação patrimonial mais fidedigna dos percursos, saberes, experiências e heranças de povos invisibilizados e obnubilados na retórica patrimonial hegemónica, como também que garantam os caminhos para reconhecimentos destas identidades e, quiçá, reparações em diversos âmbitos: simbólicos, educacionais, culturais, políticos, sociais e financeiros. Cabe, neste contexto complexo, refletir sobre como ideias, valores, práticas, objetos, representações, narrativas, agencialidades transitam nas itinerâncias entre Brasil e Portugal. Este GT visa acolher trabalhos de investigação académica que partam de casos etnográficos ou de natureza artística (performances, áudio-visuais, ensaios fotográficos e outros), que possam contribuir para com a interpretação das influências recíprocas desde o passado colonial até o tempo atual. Como as colonialidades do saber, do pensar e do ser, refletem-se ainda no Brasil e em Portugal no campo das memórias e dos patrimónios? Como a produção crítica dos estudos de patrimónios e memórias têm enfrentado discursos patrimoniais resistentes às mudanças? Como movimentos sociais têm contribuído para com os questionamentos aos discursos autorizados dos patrimónios? Como enfrentam os patrimónios sensíveis, os dissonantes e os dissidentes?
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In person Panel
La historia de los grupos que componen la comunidad LGTBIQ+ ha estado marcada por el estigma. Siguiendo a Traverso (2007), sus memorias pueden considerarse "memorias débiles”, con escasa presencia en los medios y sin apoyo institucional. Este colectivo ha sido marginado e invisibilizado por el "discurso autorizado del patrimonio" (Smith, 2006), teniendo como consecuencia una falta de referentes, generando aislamiento y dificultando el desarrollo de identidades positivas.
En las últimas décadas, estos grupos han exigido el derecho a reinterpretar su pasado y construir narrativas que otorguen nuevos significados a personas, eventos y lugares, convirtiéndolos en los referentes positivos. Estas acciones forman parte de una lucha global por la normalización de la diversidad sexual y de género, y el reconocimiento pleno de derechos ciudadanos. En este proceso, la puesta en valor y la preservación del patrimonio LGBT+ son esenciales, ya que contribuye a la desestigmatización y a la inclusión social. Los estudios de patrimonio vienen poniendo el acento en su carácter procesual y construido (Prats, 1997), no se trata de un recurso preexistente a la espera de ser revelado, sino un proceso sociopolítico donde eventos, prácticas, lugares u objetos transforman su función social y adquieren nuevos significados y Este proceso conduce a su reconocimiento como elementos dignos de conservación y transmisión a futuras generaciones (Quintero-Morón, 2009).
Este simposio se plantea como un espacio de reflexión sobre los procesos de visibilización y patrimonialización del pasado de los colectivos LGBTIQ+, abordándolos en sus múltiples dimensiones
a) Estudios de casos: lugares, monumentos, acontecimientos o personas significativas que se estén patrimonializando.
b) Análisis de los factores que facilitan o dificultan estos procesos, así como las respuestas a los mismos.
c) Presencia de las memorias LGTBIQ+ en archivos y museos.
d) Perspectivas teóricas sobre las relaciones entre memorias y patrimonializaciones LGTBIQ+
In person Panel
This panel centers on the ongoing evolution of forensic anthropology methods, aiming to bring together experts to examine and discuss innovations in the biological profile estimation, particularly those developed and tested using Portuguese reference skeletal collections. Biological profile estimation —encompassing age-at-death, biological sex, population affinities, and stature estimation— remains a cornerstone of forensic anthropology, critical for the identification of unknown individuals.
The primary objective of the panel is to evaluate recent methodological advancements and assess their validity and applicability within forensic contexts. This includes reviewing new techniques for biological profile estimation and exploring the incorporation of multidisciplinary approaches, such as machine learning, morphometric analysis, and advanced imaging, to increase accuracy and reliability. These discussions are intended to address the unique characteristics of Portuguese skeletal samples, which may influence the performance and accuracy of standard methods developed elsewhere.
A secondary goal is to encourage the development of methods specific to the Portuguese population. The panel aims to stimulate further research that adapts or redefines standard methods to reflect the distinct demographic characteristics of Portuguese populations.
Finally, the panel seeks to facilitate international collaboration, fostering a broader understanding of regional variations and promoting methodological consistency while recognizing population-specific adaptations. By sharing research findings and methodological refinements, the panel hopes to contribute not only to the field of forensic anthropology in Portugal but also to enrich global standards and practices. This forum provides a unique opportunity for researchers to exchange insights, discuss challenges, and ultimately advance forensic anthropology's ability to produce reliable, population-tailored estimations of biological profiles.
In person Panel
Desde meados da década de 70, nas grandes cidades portuguesas, como Lisboa e Porto, residem comunidades diaspóricas do sul da Ásia. Nos últimos anos, o número de imigrantes que chegam ao país vem crescendo consideravelmente, transformando e complexificando o padrão migratório que, até então, decorria das ligações pós-coloniais. A cada ano, mais imigrantes sul-asiáticos vêm escolhendo Portugal como sua nova morada, respondendo à necessidade de mão de obra, distribuindo-se por várias regiões do país. Estes novos fluxos migratórios estão sujeitos a situações de vulnerabilidade e de desigualdade social. A sua presença, bem como de suas expressões culturais nos espaços públicos e privados, vem causando mudanças e impactos na sociedade portuguesa. Os debates sobre este assunto são correntes tanto no âmbito acadêmico, quanto nas disputas políticas e sociais do país. Mediante a isso, levantam-se algumas questões sobre esse tema. Como essas populações se adaptam em Portugal? De que maneira o poder público os acolhe? Existem conflitos e/ou ataques que envolvam estes imigrantes? Como sua prática cultural e religiosa se mantém viva, agora distante de seu espaço geográfico de origem? A partir dessas indagações iniciais, gostávamos de propor esse painel, onde iremos discutir a presença e permanência de populações sul-asiáticas em terras portuguesas. Queremos debater as maneiras pelas quais esses migrantes chegam até o país, se instalam nele e perpetuam sua existência, mantendo vivo (ou não) suas referências culturais e suas formas de viver. Para além disso, queremos pensar também, quais elementos portugueses são incorporados em suas vivências, de que forma isso acontece e porque ocorre da forma que se apresenta para nós. Assim, são bem-vindos trabalhos que utilizam da prática etnográfica, como também aqueles que possuem metodologias mais amplas, com o intuito de compreender o movimento migratório dessas populações e sua permanência em solo português.
In person Panel
The broad range of institutions and social actors that make up the migrant regime all operate with notions of the meaning of integration, some of which are formally articulated and promoted whilst others are mobilized tacitly. This panel aims to enquire into who uses the notion of integration, how and for whom. Less interested in reaching a consensual definition of the term, we are more concerned with examining the processes through which multiple views and practices relate to and/or conflict with each other. How, for example, do migrants, refugees, practitioners, politicians, journalists and social scientists understand integration and in what ways are their understandings embedded in normative and analytical interpretations of the term? We are also interested in questioning the pertinence of making such a distinction between normative and analytical understandings and in examining how they may become imbricated in each other. The panel welcomes papers that draw on ethnographic research to explore these questions focusing on divergent understandings, policies and practices in the field. How are they negotiated, imposed, challenged or subverted? How do these dynamics impact upon migrants’ lives? Can some uses of integration undermine the very same objectives that the notion is supposedly intended to promote? The paper also welcomes theoretical discussions that examine the multiple angles from which the term may be used or critiqued to further social analyses in migration studies, which may include the development of new terms or conceptual frameworks.
In person Panel
Desde a origem da humanidade que a nossa espécie se tem caracterizado por deslocações importantes entre diferentes territórios, sejam estas realizadas em contextos de mobilidade intencional ou de tráfico humano. Tais deslocações podem obrigar a mudanças de ecossistema, com impacto eventualmente significativo na saúde dos indivíduos que as realizam. As razões que subjazem a tais movimentos populacionais podem elas mesmas estar relacionadas com fatores que afetam a saúde dos indivíduos, nomeadamente fome, perseguição, guerra, escravatura, alterações climáticas, entre outros. Este painel tem como objetivo explorar, através da análise antropológica de remanescentes esqueléticos, de que forma mobilidades e/ou tráficos humanos impactaram a saúde das populações, ou como as análises osteoarqueológicas podem fornecer evidências de mobilidade e/ou tráfico humano.
In person Panel
Contemporary migrations and the encounters, divisions, and social standing they create are characterised by increasing complexity and heterogeneity. Human movements overlap all regions of the globe, making it progressively difficult to identify and stabilise important analytical concepts such as sending and receiving countries, the mainstream typologies of migration and even who fits in the “migrant” category. By focusing on movements coming from and to diverse contexts of arrival and departure and distinct migrant experiences, this panel aims to discuss the doing and undoing of structural migration topics such as displacement, integration, diversity (cultural, racial, religious) management and, most importantly, policies and strategies of positioning and belonging in a foreign context. The panel especially welcomes ethnographic insights into how migrants deal with their migration experience and navigate the institutional, political and cultural borders of present-day global circulations at the level of everyday life.
We invite papers that look at: a) present-day dominant representations of the ‘migrant’ and ‘migration’, their portrays, materializations and visibilities; b)
how the ‘migrant/non-migrant condition’ is imagined and perceived; and c) how social boundaries and inequalities are made tangible in migrants’ daily contexts and routinized practices.
In person Panel
Os processos de colonização da África, das Américas e do Caribe foram marcados por violência, expropriação e movimentos de dispersão, que foram vistos como constituindo a modernidade, o Ocidente e nesse escopo, a própria antropologia (Trouillot, 2002). Neles, mulheres e homens foram submetidos a cenários de ameaça, violência e aniquilação. Além de físicas, essas dimensões se estenderam em sentidos mais difíceis de serem mensurados e nem por isso menos atrozes. Tais situações, entretanto, também foram marcadas por estratégias de sobrevivência, conservação e reinvenção, assim como pela agência de pessoas que mobilizaram elementos práticos e simbólicos para existir nos cenários de desumanidade e brutalidade que se impunham. Muitas vezes, elas o fizeram na companhia e na articulação com seres diversos e de origens distintas - espíritos, encantados, entidades, orixás, santos - cuja cumplicidade pode ser lida em chaves variadas que orientam experiências analíticas (antropológicas e não antropológicas) que questionam noções de agência, de indivíduo e de comunidade marcadas exclusivamente por aquilo que é do humano. Neste painel gostaríamos de discutir experiências nas quais alianças, pactos e/ou parcerias entre pessoas e estes seres tiveram e/ou têm espaço. Modalidades de participação, colaboração, mas ainda situações de ruptura de relações, novas combinações e transformações nos interessam especialmente em contextos de itinerância, de fluxo, de desterro e de reterritorialização. Enfatizamos esses contextos na medida em que nos parece importante dimensionar a continuidade de sistemas de dominação (como a plantation ou a intolerância religiosa) e das formas de existência que fogem de seus enquadramentos. Assim, são bem vindas propostas que pretendam explorar dimensões cosmológicas à margem das narrativas canônicas sobre a diáspora; que explorem narrativas contra-coloniais e processos políticos presentes em experiências religiosas; que se perguntem sobre a participação de seres não humanos na formação histórico-política e sociocultural de determinados contextos; que se interroguem pela presença de diferentes seres na constituição de corpos, casas, monumentos, territórios, governos e cidades.
In person Panel
Nos últimos anos há um aprimoramento nas reflexões dos regimes de trabalho envolvendo os modos de fazer, o conhecimento e mulheres nas várias antropologias que nos atravessam através de uma diversidade de contextos. Nos interessa acolher neste painel experiências de campo e trabalhos etnográficos que estão com uma atenção voltada para as mulheres, os regimes de trabalho que focam nos modos de fazer, dando visibilidade para suas práticas sejam em contextos que geram espaços de vida, mas não só pensando modos de vida tradicionais. Nos interessa cruzar contextos de trabalhos em que essas mulheres atuam e vivem. A intenção é cruzar várias histórias e contextos em múltiplas espacialidades e temporalidades. Queremos identificar elementos e movimentos de aberturas e desdobramentos que nos permitam acessar histórias de transmissão de conhecimentos e processos históricos de relações com os espaços de vida e espaços de trabalho que podem refletir em formas de organização e formação de coletivos que perfazem espaços e espacialidades sociais, culturais e políticas. A interdependência entre os elementos que perfazem relações, o fazer, o conhecimento sobre esse fazer e o investimento para constituir espaços de vida e de várias formas de trabalho que quebram os imaginários de subalternidade dessas experiências é a chave analítica para adentrarmos num debate sobre saberes, vivências, aprendizagem, cuidado, afetos que conformam relações, reciprocidades, sociabilidades, socialidades, resiliência, resistência e bem viver.
In person Panel
This panel takes multimodal methods in public and applied anthropology as a starting point. By drawing on different media types, including photography, film, audio recordings, digital mapping and storytelling, and AI technologies, anthropologists engage with human experiences in ways that text-based approaches may overlook. Scholars have argued that "multimodal inventions are not constructed around a pre-existing "thing," "idea" or "practice" to be represented. Rather, they enact encounters in which the unexpected, the unforeseen, the otherwise may be co-produced" (Dattatreyan and Marrero-Guillamón 2019, 11).
Among the advantages of using multimodal methods is the accessibility of the "products" to diverse audiences. Another is that they allow for engagements between people who would otherwise not collaborate, facilitating the co-creation of knowledge with the camerapeople, editor, and interlocutors (Arnez 2020). However, multimodality also poses several challenges that researchers must critically reflect on. For example, as highlighted by Nat Nesvaderani (2023), such methods do not ensure the desired impact, the "hoped-for social and political change." Moreover, complex power dynamics in the field demand that relationships with participants and stakeholders be carefully navigated and that research ethical standards be upheld.
Contributions are invited on how visual and acoustic media can effectively co-produce anthropological knowledge, drawing on insights from their studies or engagement with others. The panelists are invited to critically engage with the challenges posed by employing these methods and to consider how they can be addressed.
Contributions are invited - but not limited - to the following questions:
- How can ethical issues be suitably addressed using multimodal methods?
- What innovative and unexpected contributions do multimodal methods make to public and applied anthropology?
- What are the new dynamics of multimodal methods, and what characterizes them?
- What are the benefits of using such methods for encounters in the field, and what are its limits?
Arnez, Monika. 2020. On "Flow of Sand." AriScope, 17 September 2020.
Dattatreyan, E. Gabriel and Marrero-Guillamón, Isaac. 2019. Introduction: Multimodal Anthropology and the Politics of Invention. American Anthropologist, 121(1), pp. 220-228. ISSN 0002-7294
Nesvaderani, N. Multimodal Anthropology. Oxford Research Encyclopedia of Anthropology. Retrieved 19 Oct. 2024, from https://oxfordre.com/anthropology/view/10.1093/acrefore/9780190854584.001.0001/acrefore-9780190854584-e-649.
In person Panel
Este painel propõe uma reflexão sobre as interseções entre cuidado, poder e agência nas práticas de cuidado, considerando as dinâmicas complexas que emergem em contextos de vulnerabilidade, deficiência, doença crónica e envelhecimento. Em particular, procuramos estudos que reflitam como as práticas e relações quotidianas de cuidado refletem e moldam relações de poder variadas.
Colocando no centro da discussão o conceito da “interdependência”, procuramos realizar um painel que contribua para as reflexões que superam as concepções tradicionais de autonomia e que destacam a natureza relacional das necessidades humanas. Olhando para o cuidado como uma relação interdependente e co-construída, envolvendo múltiplos atores, e não apenas uma dupla binomial de sujeitos ativo/passivo, cuidador/cuidado, autónomo/dependente, propomos explorar como as dinâmicas de poder são expressas e negociadas nas práticas de cuidado, e como elas afetam os envolvidos nesse processo. Sendo o cuidado marcado por hierarquias e desigualdades, é também uma prática constitutiva das relações humanas (e não humanas) que permite a reprodução social, a solidariedade e a construção de formas de resistência. A abordagem central do painel analisa o cuidado como um conceito amplo, complexo e cheio de ambivalências e contradições, enfatizando como o cuidado se configura tanto como uma necessidade humana fundamental quanto como um campo de disputa e transformação social.
A partir de uma perspectiva antropológica, pretendemos explorar como as práticas quotidianas de cuidado são moldadas por uma rede complexa de reciprocidade, afeto e obrigações. Além disso, serão examinadas as desigualdades e tensões que permeiam as relações de cuidado, como os impactos do capacitismo, do envelhecimento e das normas sociais de género, raça, etnicidade, sexualidade, e classe.
Desta forma, convidamos contribuições teóricas e etnográficas que abordem as ambivalências das relações de cuidado, propondo uma discussão sobre como essas práticas são negociadas e experimentadas em diferentes contextos. Ao questionar as fronteiras do que significa cuidar e ser cuidado, procuramos promover uma discussão rica e multidimensional do cuidado, que contemple a sua complexidade moral, temporal, política e afetiva. Propostas que incluam média audiovisual e outras formas artísticas de apresentação também são bem-vindas. Aceitamos submissões em português, espanhol e inglês.
In person Panel
No artigo intitulado "I the Jew, I the Buddhist: multi-religious belonging as inner dialogue", a pesquisadora Mica Niculescu debate o fenômeno contemporâneo dos judeus étnicos (por nascimento) que, ao longo do século XX, passam a reivindicar uma espiritualidade simultânea do tipo Budista. Trata-se de uma experiência de cruzamento entre as duas referidas Diásporas na América do Norte, também sublinhada pelo investigador Alex Minkin, no artigo "Judeus no Espiritismo e na Umbanda: De entidades a adeptos" (2018), quando contempla as Diásporas sefarditas e afro-brasileira, por sua vez recepcionadas em práticas da Umbanda e seus grupos espirituais (falanges) do "Povo do Oriente". Nas palavras de Niculescu (2002): “pode-se dizer que nessas formas de bricolage simbólico e ritual onde a subjetividade prevalece, a performance é mais importante do que a teologia. O que faz o funcionamento do pertencimento duplo é a prática dupla, que é realmente um diálogo interno constante”. Mais recentemente (2024), no livro Peregrinação, Patrick Oliveira/Adelona Isola desenvolve o conceito de "Nomadismo Ôntico" por meio do qual formula seu prisma afro-brasileiro acerca da tradição do Ifá em diálogo com movimentos políticos, culturais, intelectuais e estéticos variados. Nesse painel buscaremos ampliar o desafio epistêmico que situa a alma/psiké nos termos de encruzilhada e coletivo ancestral, problematizando os marcadores coloniais de pretensão universalizável para a individualidade atomizada. Desse horizonte de multiplicidade, a posição de abertura da alma para o mistério, em sua relação com a paisagem ampliada do sagrado exige um componente de travessia-movimento em vez de fixação-identidade (unidade, pureza): ainda na inspiração de Adelona Isola, pensar a dádiva enquanto vivência da andarilhagem e da itinerância, devires e desapego nos âmbitos externo (território), interno (emocional) e secreto (confluência kármica). Serão aqui bem-vindos os trabalhos que nos permitam investigar a bilocação ou a ubiquidade nos componentes de pertencimento ancestral entre reivindicações simultâneas de premissas de realidade distintas. Embora Eduardo Viveiros de Castro já discuta o conceito de MultiNaturalismo em Metafísicas Canibais (2015), obra de abordagem pós-estruturalista, inserida na Virada Ontológica e no Perspectivismo, a referida dimensão de múltiplas realidades (ontologias) e temporalidades (ancestralidades) sobrepostas ainda não alcançou uma discussão suficientemente amadurecida sobre as respectivas influências bilaterais para duas ou mais zonas ontológicas visitadas pelo mesmo sujeito.
In person Panel
Portugal tem recebido, nas últimas décadas, significativo fluxo migratório, notadamente de brasileiros como, também, de populações do Leste europeu e de África e Ásia. Os fluxos migratórios costumam trazer consigo expressões religiosas exógenas às tradicionais culturas religiosas portuguesas, e estabelecem-se, a partir deles, novos grupos religiosos que importam, desde os seus locais de origem, constelações simbólicas e ethos religioso que introduzem, na sociedade portuguesa, novas sensibilidades e configurações religiosas que ora dialogam criativamente com a cultura portuguesa, ora entram em conflito ou estranhamento com ela. Entre tais grupos destacam-se aqueles de origem evangélico-pentecostal vindos do Brasil. A IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) foi, de forma mais notada, a primeira de tais agências religiosas cristãs a causar impacto e polémicas na sociedade portuguesa. Contudo, actualmente, observa-se o fenómeno de certa “colonização” evangélico-pentecostal já não apenas através de instituições religiosas importadas do Brasil, mas de movimentos e sensibilidades religiosas que costumam apresentar identidades fluidas e hibridismos sincréticos, ou mesmo iniciativas pessoais independentes de qualquer vínculo formal e institucional. Compreender, hoje, as sociabilidades religiosas em Portugal, é também compreender o impacto exercido por tais missões religiosas estrangeiras na linguagem, imaginário e concepções humanas e sociais nos seus diálogos com as tradicionais culturas religiosas portuguesas. Para além de tais grupos, notam-se, também, embora em menor número, grupos religiosos ligados ao Islão, à Ortodoxia cristã oriental, ao hinduísmo e ao budismo, a apresentar, à sociedade portuguesa, novos aspectos de pluralismo religioso, a impelir a mútuos conhecimentos e reconhecimentos culturais.
In person Panel
Como refere Cole (2021), o conceito de folk – tal como o de popular – é um sintoma da
modernidade. Campo de identificação, representação e contestação, a ubiquidade de
manifestações populares e vernaculares nas artes, nas festividades e nos media abrange
uma multiplicidade de dinâmicas e estéticas, enquanto elude definições e limitações. Nos
últimos anos, encontramos a efervescência de múltiplos retornos ao popular, ao rural, ao
ancestral e ao folclórico, pela crescente adesão de multidões a festas e romarias populares;
pela popularidade manifesta de abordagens e temáticas folk no cinema, na música e nas
artes performativas; ou pela importação e incrustação de elementos vernaculares na arte
contemporânea. Estaremos perante um novo "revivalismo folk"?
Este painel procura problematizar a mobilização de formas variadas de cultura popular
portuguesa à luz deste “revivalismo folk”. Dado que a valorização do folk é um processo
histórico que emergiu no século XVIII, quais as continuidades e roturas deste revivalismo
folk na contemporaneidade quando comparado com movimentos similares do passado?
Quais as circunstâncias do mundo atual que parecem reclamar a pertinência do folk? Em
que modalidades este revivalismo se manifesta e como aborda os elementos, materiais e
imateriais, das culturas populares e tradicionais? De que formas estão estes elementos a
ser jogados, quotidianamente, nas múltiplas manifestações folk? Este painel procura
endereçar estas questões, convidando à apresentação de propostas baseadas quer em
reflexões teóricas quer em estudos de caso em torno das modalidades,
consequências e efeitos dos revivalismos folk.
In person Panel
Trabalhos recentes em Antropologia e Linguística sobre línguas indígenas, artes verbais e processos de retomada linguística vêm apontando que, para contribuir com o registro e fortalecimento da diversidade linguística, é fundamental a atenção às proposições ontológicas dos interlocutores indígenas quanto à tradução, dialogicidade, escuta e alteridade, tendo especial atenção às artes verbais e formas de discurso xamânicas. Distanciando-se de concepções de linguagem que operam a partir da separação entre natureza e sociedade, ou das ideologias linguísticas enquanto crenças e representações sobre a linguagem e sobre o real, a presente proposta de painel propõe um olhar para o multinaturalismo linguístico nos estudos sobre gêneros discursivos, artes verbais e processos de retomada linguísticos protagonizados por povos indígenas. O painel abre-se a propostas de trabalhos situados no campo interdisciplinar entre Antropologia e Linguística, que enfatizem as relações entre ontologia e linguagem observadas através de etnografias e processos de documentação de línguas indígenas, gêneros discursivos, artes verbais (cantos, fórmulas xamânicas, sonhos, narrativas míticas, dentre outros), modos de comunicação transespecíficos, e ações de retomada/revitalização linguísticas.
In person Panel
O presente painel pretende fomentar a discussão sobre o desenvolvimento dos estudos da memória dentro da investigação antropológica. Os estudos da memória são um campo transdisciplinar em expansão dentro das ciências sociais. Por não se concretizarem enquanto uma disciplina delimitada, mas sim um conjunto de métodos e preocupações, este campo de investigação tem oferecido importantes contributos para diversas humanidades, desde os estudos literários até a sociologia. Em razão do potencial que os estudos da memória oferecem, este painel tem como objetivo propiciar algumas reflexões metodológicas e epistemológicas sobre as possibilidades e limitações do desenvolvimento de estudos da memória na Antropologia. As dificuldades que os investigadores da memória enfrentam frequentemente decorrem da inexistência daquilo que podemos definir como um "átomo de memória" isto é, uma partícula indivisível e definitiva da memória. Outra limitação discutida é a natureza em disputa da memória. Por outro lado, a investigação sobre os quadros sociais da memória possibilita um entendimento mais claro sobre o passado e sua construção ideológica a partir do presente. Assim, o painel pretende contribuir com o desenvolvimento dos estudos da memória dentro da antropologia portuguesa.
In person Panel
Há algum tempo, os estudos em cidades patrimoniais têm abordado os conflitos acerca das reformas, dos restauros e da conservação dos imóveis. Mais recentemente, a percepção de que o patrimônio material tem produzido transformações nas paisagens e a valorização do solo urbano a partir da lógica do capitalismo global que conecta a economia da construção à dos estilos de vida tem provocado o interesse de muitos pesquisadores que destacam os projetos de gentrificação, de privatização de espaços e o processo de degradação ambiental promovido em sítios patrimoniais, o que tem colocado em debate o diálogo entre a sobrevivência das pessoas com a natureza. Nos interessa nesse painel contribuir com o debate sobre a relação dos patrimônios com o meio ambiente, principalmente, mas não exclusivamente, os desafios para a conservação de monumentos e sítios patrimoniais em tempo de mudanças climáticas, a relação entre degradação ambiental e os materiais e saberes utilizados nos restauros de edificações patrimonializadas, a salvaguarda de riquezas naturais a partir da sua patrimonialização e o reconhecimento da natureza como sujeito de direitos.
In person Panel
Este painel pretende contribuir para o debate sobre as práticas alimentares a partir de uma perspetiva antropológica, oferecendo um espaço de discussão teórica e etnográfica, com propostas que analisem não apenas as transformações em curso neste campo, mas igualmente os conceitos e sentidos de tradição e inovação relativamente aos modos de confecionar alimentos, de os consumir e de os vender.
A alimentação quotidiana tem vindo a alterar-se nas últimas décadas, de modo diferente em função dos contextos territoriais, recorrendo cada vez mais a produtos congelados ou enlatados, frequentemente bastante processados, com a adição de elevadas percentagens de açúcar e sal. Acresce a disponibilidade e o fácil acesso, no mercado, a sabores exógenos, permitindo experiências transculturais no âmbito das práticas alimentares, tanto no contexto doméstico como na esfera pública.
As ementas dos restaurantes, tanto traduzem a apropriação de produtos considerados tradicionais e populares como reivindicam a reinvenção de pratos de base tradicional e popular transmutados em cozinha de autor, que, não raramente, convocam, de forma intencional, os diferentes sentidos, na sua degustação.
Propomos que se pensem as práticas alimentares considerando todas as suas recentes transformações, centrando-nos no contexto nacional, mas abrindo igualmente horizontes para outros lugares. Questões como as implicações de uma pandemia à escala global, a crescente individualização dos consumos alimentares e a forma como o mercado se adapta a esta realidade, o impacto da cultura do “pronto a comer” e os produtos alimentares que lhe estão associados, são concomitantes com fenómenos como a apropriação de repertórios alimentares “tradicionais” e “populares”, com a gourmetização das experiências, ou mesmo com a possibilidade – cada vez mais palpável – de incorporação de práticas outrora “exógenas”.
Pensando na transformação das práticas e consumos alimentares como o elemento central de análise, propomos um debate alargado a diversos contextos, lugares e experiências, que contribuam para uma reflexão sobre o presente e o futuro da alimentação nas sociedades contemporâneas.
In person Panel
Nas últimas décadas assistiu-se a uma profusão de práticas espirituais com os mais variados âmbitos e propósitos, a ponto do próprio termo espiritualidade ter perdido o seu carácter específico. Das espiritualidades “new age” às terapias alternativas, várias são as práticas que parecem caber sob o chapéu das “novas espiritualidades”. Esta não é uma questão inteiramente nova. Contudo, a intensidade e heterogeneidade destas práticas aumentou, a ponto de coexistirem diferentes circuitos e públicos, com alcances tanto gerais como específicos, e com os mais variados propósitos e orientações. O presente painel pretende contribuir para analisar esta reconfiguração das espiritualidades contemporâneas, explorando dinâmicas emergentes, incluindo “novos” territórios de expressão da espiritualidade, como é o caso da (re)emergência, nos últimos anos, do uso de substâncias psicadélicas para fins rituais.
Estas são temáticas que têm conhecido uma crescente atenção por parte das ciências sociais (antropologia, sociologia, etc.), mas que, ainda assim, apresentam terrenos ainda pouco explorados, apesar da sua relevância do ponto de vista social e cultural.
Este painel, proposto pelo projeto de investigação "SPIRECTS – Práticas espirituais e substâncias psicadélicas em contextos emergentes ritualizados: implicações terapêuticas e socioculturais" (2023.13311.PEX), pretende dar voz a estes terrenos de pesquisa ainda pouco explorados, acolhendo comunicações sobre práticas espirituais emergentes, em contextos informais, não enquadradas necessariamente por organizações (religiosas ou outras). Acolhemos propostas de comunicação que analisem a complexidade de práticas espirituais emergentes, explorando as suas manifestações e implicações através de diferentes pontos de vista ou níveis de análise – social, cultural, político, ético, terapêutico, etc. Temos especial interesse em propostas que explorem diferentes dimensões da relação entre práticas espirituais e uso de substâncias psicadélicas, mas aceitamos igualmente comunicações que se debrucem sobre outras práticas espirituais em contextos emergentes.
O teor das propostas pode cobrir qualquer uma das implicações mencionadas, desde que exploradas do ponto de vista de áreas disciplinares das ciências sociais (antropologia, sociologia, etc.), podendo cruzar-se com outras áreas científicas. Podem incluir igualmente abordagens metodológicas diversas (qualitativas, quantitativas, mistas), desde que enquadradas por modos de problematização e discussão teórica que permitam elucidar diferentes aspectos relevantes da temática em questão.
In person Panel
Primatology is, by its very nature, an interdisciplinary field, situated at the intersection of anthropology and biology, and bridging the realms between humans and other animals. The order Primates has fascinated philosophers and scientists for centuries, initially through descriptive studies and the recognition of the apparent similarities between humans and other apes. Reflecting the knowledge of many cultures that have historically regarded humans as integral to, rather than separate from, nature, the establishment of the scientific discipline of primatology in recent decades acknowledges humans and other primates as parts in a biological continuum.
Contemporary primatology builds on this enduring body of knowledge, advancing to encompass areas such as ecology, behaviour, genetics, and anthropology, while fostering collaboration across multiple academic disciplines, both biological and social. As we face an increasingly interconnected world, where humans and other primates coexist and influence one another in complex ways, the need for innovative interdisciplinary methods and approaches becomes ever more pressing.
This panel aims to explore advancements and emerging opportunities in primatology. It highlights the importance of integrating perspectives from both the biological and social sciences to enhance our understanding of the interface between humans and other primates. We invite contributions that reflect the diversity of primatological research, including but not limited to ethnoprimatology, primate ecology, behaviour, cognition, conservation, taxonomy, genetics, and evolution. Both theoretical and empirical studies are welcome, whether conducted in the field, captivity, laboratory or clinical settings, through archival research, or other methods.
By bringing together various disciplines, this panel seeks to foster an exchange of ideas, showcase methodological innovations, and share findings and reflections. Through this collaborative platform, we aim to identify emerging trends, address contemporary challenges, and chart future directions for research in primatology.
In person Panel
A proposta do Painel é investigar possibilidades de criação de refúgios em um contexto de perda generalizada de condições de vida para humanos e não humanos. Refletindo sobre a época atual e sobre a pluralidade de termos que a nomeiam, como Antropoceno, Capitaloceno, Intrusão de Gaia, ou Plantationceno, a discussão busca abordar iniciativas de restauração ambiental e regeneração ecológica como processos que "refazem futuros". Em um cenário planetário de processos associados à expansão capitalista e industrial, como a contaminação de ecossistemas e a extinção maciça de espécies, isso significa examinar ecologias regenerativas que surgem em ambientes historicamente devastados pela ação humana. Com isso, busca-se conectar temas como a invasão biológica, a recuperação de ambientes degradados, as reinvenções das paisagens silvestres, a produção de naturezas e as novas ecologias que emergem em meio a essas transformações. Entendemos que, embora as atividades de restauração ecológica possam ser caracterizadas como “atividades humanas”, elas envolvem agenciamentos onde espécies diversas se tornam protagonistas na reconstrução de ecossistemas. E isso nos oferece, ao mesmo tempo, uma crítica ao exclusivismo humano e um contraponto em relação ao entendimento da ação humana, ou da antropização, como exclusivamente destrutiva e ligada à perda da biodiversidade. Neste sentido, a proposta visa integrar trabalhos etnográficos e teóricos em diferentes contextos socioambientais que envolvam temas como restauração ambiental, reflorestamento, rewilding e refaunação, ou estudos empíricos críticos sobre as dinâmicas de extinção. Entendemos que um painel com essas experiências pode permitir uma reflexão coletiva sobre práticas de cuidado que permitam imaginar outros futuros possíveis em tempos de catástrofes ambientais cada vez mais recorrentes.
In person Panel
O século XX foi o século dos refugiados e as primeiras décadas da nova centúria tendem a demonstrar uma continuidade. Devido à ocorrência de eventos bélicos, de maior ou menor dimensão, como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Guerra Civil de Espanha (1936-1939) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ou a perseguições do foro político e religioso, como foram as desencadeadas pelo regime nazi entre as décadas de 1930 e 1940, milhões de pessoas viram-se obrigadas a fugir dos seus países. Mais recentemente, o reavivar de novos conflitos, de que são exemplo a invasão russa da Ucrânia, nos inícios de 2022, e a situação na faixa de Gaza, comprova que esta é uma realidade transversal no tempo e no espaço.
Recorrendo a um diálogo e uma abordagem interdisciplinar entre a antropologia, a história e a sociologia, este painel procura cruzar o passado com o presente e juntar investigadores de diversas áreas cujos trabalhos convergem no estudo da passagem e do acolhimento de refugiados em Portugal nos séculos XX e XXI. Este painel pretende incentivar o debate sobre a forma como, ao longo do tempo, os refugiados foram e têm sido acolhidos e vistos em Portugal, tanto pelos governos, como pela sociedade, no sentido de percecionar as divergências e as semelhanças, refletindo sobre o momento atual e procurando perspetivar o futuro.
In person Panel
Sem prejuízo das evidentes causas e consequências religiosas das migrações, importará notar que a mobilidade religiosa acompanha alguns credos desde a sua criação, não se reduzindo à mobilidade de pessoas, mas também de objetos e ideias. Os «fluxos globais da cultura» de Appadurai, nomeadamente de pessoas, tecnologia, capital, ideologias, informação e imagens, têm feito da diversidade proximidade. Ainda que os antropólogos da religião tendam a privilegiar as consequências migratórias e leiam a religião pela lente da mobilidade, será avisado não confundir a investigação com a coisa investigada. A mobilidade não é evidente apenas num plano mítico, nem mesmo nas religiões do livro, mas acompanha a vida das mais diversas confissões. Pense-se na mobilidade da palavra através do proselitismo, tantas vezes tornada ação através da “conversão”, ou os diálogos bélico-religiosos, em “conquistas” e “reconquistas”, de terras e suas populações. Importa retomar as reflexões sobre o fenómeno das peregrinações tão presentes desde a Antiguidade até ao presente e que igualmente coloca em movimento tanto pessoas, como mercadorias e conhecimento. Circulam relíquias ou imagens de pessoas sagradas, edificam-se novos lugares que marcam essa mobilidade aos lugares santos, conflituam-se as rotas e rivalizam-se as experiências e as pertenças no seio e entre diferentes credos, nesses trânsitos. Haverá a re-sacralização de uma sociedade hoje pensada como secularizada por meio da mobilidade? Haverão conversões a alguma fé proclamada ou apenas se intensificam as afiliações religiosas durante essas caminhadas? Alteraram-se as motivações ou as funções, complexificaram-se os hibridismos/sincretismos ou busca-se o purismo religioso exclusivista nesses percursos? As novas tecnologias serão mais um meio de as religiões se moverem no espaço e no tempo? Seja através de uma «bricolage religiosa» através da qual as pessoas se vão apropriando de símbolos religiosos heteróclitos entre si para compor uma fluida identidade espiritual, seja através do «nomadismo religioso», simultâneo ou alternado, disponível no cardápio de religiões disponíveis, a mobilidade foi e é imprescindível para se compreender a espiritualidade e a religiosidade. Este painel visa reunir estudiosos interessados em apresentar e debater análises contemporâneas e fundamentais acerca da temática da religião em movimento e as suas múltiplas dimensões, dinâmicas, práticas e experiências, que reafirmam ou contestam a sua fluidez ou os seus mapeamentos e pressupostos tradicionais.
In person Panel
A religiosidade popular define-se etimologicamente como a “qualidade que encerra em si uma relação com aquilo que é religioso, no âmbito do popular, a expressão traduz aquilo que demais profundo, direto e intuitivo existe na alma do povo em relação a Deus e a todo o mundo transcendente”. Admitindo-se que estas práticas possuem um relacionamento direto com o sagrado e o profano, conceito dicotómico, numa estrutura ritualizada onde em primeiro plano se pode encontrar a liberdade de expressão do indivíduo, constituindo-se esta prática como fonte chave para a definição dos rituais implícitos na religiosidade popular.
No pensamento de José Lima admite-se que a religião popular, tal como a música e a medicina, encontra-se impregnada de superstição e tradição, permitindo admitir que é uma religiosidade fundamentalmente tradicional. Surgindo, em jeito de oposição, às formas de interculturalidade e constituindo-se como o “lugar da preservação da identidade e até de uma certa desculturação”.
Na perspetiva do mesmo autor no contexto atual pode admitir-se que a religião popular “refere o aspeto quantitativo da incidência social, sendo que a igreja popular é a igreja de massas da multidão”, tomando relevo a questão de número de pessoas que levam esta prática como comum e ancestral.
Não podemos descurar a ideia de ancestralidade destas práticas, admite José Lima que, dentro do pensamento antropológico este comportamento religioso encontra-se diretamente ligado com o antigo paganismo greco-romano, que por sua vez se perpétua, podendo chegar até à atualidade em ambientes de matriz cristã.
Seguindo a opinião de diversos autores torna-se impreterível que esta temática seja analisada através das suas ligações com o meio social em que se insere. Atente-se nas palavras de Moisés Espírito Santo, onde admite que “a religião popular não está exclusivamente associada a uma classe social, económica e culturalmente pobre, ela liga-se sim a um tipo de cultura que se transmite nas relações de vizinhança e na memória coletiva”.
Propõe-se através desta mesa de trabalho debater esta temática centrada numa geografia central ibérica, unindo assim dois territórios e uma fronteira, analisando casos práticos de conceitos como memória, religiosidade popular, cultura popular, comunidade, entre outros.
In person Panel
Space is inhabited, lived, and interpreted by experiences, narratives, memories, differentiated keys becoming a place of aggregation, overexposed to intersection and resignifications. Following Knott's theories (2010) based on the spatial turn, space produces meaningful subjects, and highlights differences and varieties of 'traditions' depending on the origin’s nations and sociocultural factors. The urban fabric is reshaped from its agency and thanks to the increasingly incisive migrant presence reconfigured from a religious perspective, laying the foundations for a super-diversity (Vertovec 2007) declined as cultural, social, economic, and religious. The ferment of religious diversity has given rise to new stratifications and differentiations that allow for the identification of heterogeneity within religious communities. To promote values, nurture interaction between cultural and religious actors, develop identities, preserve and enliven memory through the valorization and heritagization various communities’ contributions with narrative practices, forms of sharing and meaning-making, useful to explain the 'nature of identities’. New of particular note is the approach marked by cultural sustainability, based on the juxtaposition of culture alongside environmental, economic, and social sustainability, and on the other hand on recent studies, such as those by Bomberg and Hague (2018), which emphasize the role of religion as a cultural resource that affects social adaptation and responds to environmental change.
The panel aspires to welcome contributions from different disciplines that intend to address the issues outlined above. Contributions with an interdisciplinary approach will be particularly appreciated. Research questions may cover, without excluding other possibilities, the following areas:
(1) how religious communities with migrant presences implement practices marked by cultural sustainability
(2) how places of worship are proposed as elements of heritagization of foreign religions
(3) intangible practices, such as rituals, formulas, choreo-musical forms, amenable to processes of valorization and transmission to future generations
(4) changes made by new immigrant presences to 'native' religious forms
(5) changes to the 'urban maps' of portions of the city due to the new places of worship that have arisen as a result of the arrival of immigrant religions
(6) how religious tourism is attracted to peculiar spaces and communities and how it in turn impacts these
In person Panel
As pessoas e coletivos ciganos na Península Ibérica, frequentemente tratadas como um grupo social isolado, localizado nas margens da sociedade e como e internamente homogéneo, enfrenta processos contínuos de etnicização, racialização e exclusão social, profundamente enraizados em processos históricas de longa duração. Este painel propõe um olhar renovado sobre as experiências ciganas de marginalização, resistência e luta por direitos sociais. Através de uma análise interligada das esferas histórica, social e cultural, exploram-se as trajetórias destas pessoas e coletivos e as estratégias que têm desenvolvido para afirmar a sua identidade e autonomia, assegurar o acesso a direitos e resistir ao estigma e discriminação. São propostos os seguintes eixos temáticos de discussão:
1)História, Marginalização Social e Anticiganismo: estudos que analisem os processos de perseguição, segregação, racismo e racialização histórica que contribuíram para a situação social contemporânea das pessoas e coletivos ciganos;
2)Saúde e Habitação: barreiras de acesso aos serviços de saúde e práticas etnocêntricas institucionais, bem como efeitos da precariedade habitacional, do nomadismo forçado e/ou do racismo ambiental;
3)Emprego. Fomação Profissional e Educação: trabalhos que abordem o acesso restrito ao emprego formal e/ou os desafios no sistema formativo e educativo, analisando políticas públicas de inclusão social ou fenómenos persistentes de exclusão;
4)Género, Associativismo e Participação Social: investigações que explorem a relevância do associativismo cigano e das redes de apoio mútuo, sem esquecer a perspetiva de género nestes processos, nomeadamente o papel das mulheres como agentes de mudança e resistência;
Este painel interdisciplinar apela a investigadores/as e profissionais das áreas de antropologia, sociologia, história, educação, entre outros, que se dediquem ao estudo das pessoas e coletivos ciganos em território ibérico, incentivando abordagens teóricas e/ou metodológicas que rompam com os estigmas históricos e que valorizem as práticas e saberes destas pessoas e coletivos. Propõe-se uma análise crítica e decolonial das trajetórias de exclusão das pessoas ciganas, inserindo-as numa narrativa mais ampla de resistência global. O painel convida à reflexão sobre a ciganofobia e a marginalização como fenómenos sustentados por estruturas de poder e incentiva políticas públicas que respeitem a diversidade cultural e promovam uma inclusão efetiva e equitativa. Aceitam-se propostas em português, espanhol e inglês.
In person Panel
A branquitude, enquanto narrativa dominante, perpetua desigualdades e marginalizações de corpes e identidades que fogem do padrão normativo eurocêntrico. Este painel pretende ser um espaço de reflexão para a desconstrução dessa narrativa (Trouillot, 2015) enfatizando a resistência e a resiliência de corpes racializades, hierarquizades, invisibilizades, silenciades e a queerness, que contestam esses essencialismos impostos e reivindicam seus espaços de (re)existência.
Discutiremos como as categorias subversivas emergem como formas de resistência cultural e política contra o "véu de Narciso" do privilégio branco a partir das sugestões de Bento (2022) impulsionando o debate não só no plano individual, mas também no coletivo. Daremos ainda destaque a casos de estudo e experiências comunitárias que exemplificam a agência dessas resistências. Este debate será pautado por diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, incluindo etnografias, autoetnograficas, teorias queer e teorias descoloniais.
Este painel de discussão propõe-se ainda a abordar identidades em mudança como metáfora e prática de agência e transformação, refletindo sobre como a acção política e de luta pela autodeterminação constitui diálogos pautados pela fluidez identitária e a multiplicidade de narrativas que subvertem e (re)imaginam formas de ser, pensar e (re)existir.
(*No sentido de abarcar todas as formas de existência, decidimos adoptar pela linguagem neutra)
In person Panel
This panel proposes an exploration of the interconnections between im/mobilities and digitally mediated work. Almost all work today entails the use of digital technologies, whose multiple applications are transforming how work is assigned, experienced, performed, and controlled. By digitally mediated work, we refer broadly to work practices reconfigured through digital platforms, algorithms, and data processing, resulting in practices that may include fully online labour—whether in person or remote—or physical labour facilitated by digital platforms.
For instance, the COVID-19 pandemic accelerated the global adoption of remote work, raising fundamental questions about the future of professional mobility in an era where work is increasingly detached from physical location. Simultaneously, it triggered an intensification of the platform economy and on-demand labour, such as delivery or care work.
By bringing together diverse empirical examples of digitally mediated work, this panel aims to foster reflection on how these transformations in the work realm affect how people imagine, desire, and practice im/mobility across different life stages and contexts. For some, digitally mediated work represents an opportunity to settle in one place; for others, it may offer a way to avoid migration or, conversely, a tool for embracing ongoing mobility. For others still, it might provide a means to return to a desired homeland. In sum, digitally mediated work can reshape not only patterns of migration and everyday mobilities, but also fundamental concepts of belonging, community-making, and citizenship.
The panel welcomes empirically grounded studies and theoretical reflections on the connections between im/mobilities and digitally mediated work across various types of workers and mobile individuals: remote and gig workers, highly skilled migrants, digital nomads, and platform workers. Altogether, the papers will chart emerging meanings and practices of im/mobility, community, and belonging resulting from the impact of digitally mediated work.
In person Panel
Tomando de empréstimo o conceito de navigating (Marleene Dekker & Rijk van Dijk) este painel pretende discutir a complexa relação entre Saúde e Cultura, nomeadamente as interfaces interdisciplinares entre as ciências biológicas e sociais. O painel propõe uma análise das formas como diferentes populações constroem, interpretam e experienciam a saúde, a doença e a cura, atravessando e entrelaçando vários universos simbólicos – ciência, religião, arte, práticas tradicionais e senso comum. Através de apresentações e etnografias diversas, discutem se as representações sociais e as experiências fenomenológicas ligadas a estas temáticas, destacando-se as práticas online e offline como espaços onde esses significados são constantemente negociados. O objetivo é fomentar um debate interdisciplinar que abra novas perspectivas sobre como fatores biológicos, culturais, sociais e tecnológicos influenciam a forma como compreendemos e vivenciamos a saúde em contextos contemporâneos. O painel concentra-se em investigações enquadradas na Antropologia Médica e no Pluralismo Médico, privilegiando a interface entre Antropologia Biológica e a Antropologia Social e Cultural. No entanto, procura também atrair investigadores de outras disciplinas que partilham o interesse em explorar as dinâmicas de saúde e cultura, tais como as ciências biomédicas, as ciências da comunicação, e outras ciências sociais. O objetivo é estabelecer um espaço de diálogo e troca de conhecimentos, permitindo que diferentes perspectivas e metodologias sejam articuladas para um entendimento mais abrangente e integrado das experiências de saúde e dos seus determinantes culturais e sociais.
In person Panel
A antropologia e a etnografia oferecem uma visão privilegiada para compreender dinâmicas que afetam a saúde mental a nível global e local. Navegando entre múltiplos contextos terapêuticos –da biomedicina as práticas terapêuticas em âmbito religioso – as pessoas tentam encontrar um caminho entre a pluralidade destes modelos interpretativos, em busca de soluções que aliviem o sofrimento psicológico e permitam ativar dispositivos terapêuticos para provocar mudanças na própria vida.
Nos espaços de tratamento das instituições ocidentais - centros de saúde, centros de acolhimento, internamentos psiquiátricos, entre outros - a presença de pacientes provenientes de culturas diferentes e que vivenciaram episódios de grande violência e separação ao longo do próprio caminho, confronta os profissionais de saúde mental com processos de cura sem ter os elementos fundamentais para uma apropriada leitura do sofrimento psíquico. Para estes pacientes, muitas vezes em situação de vulnerabilidade social e inscritos em múltiplas violências estruturais, existe um risco acrescido de serem ainda mais marginalizados e silenciados devido a uma falta de compreensão linguística, religiosa, cultural e individual que acresce diagnósticos precipitados e farmacoterapias massivas. Na sua abordagem, o trabalho antropológico tem que ir ao encontro de uma postura interdisciplinar, crítica e multimodal. Centrais, nessa reflexão, são as seguintes questões: poderá a antropologia dialogar com outras disciplinas – psicologia, psicanálise, psiquiatria, entre outras – para ajudar a melhorar intervenções terapêuticas que sejam mais centradas nas pessoas? Quais as experiências e (eventuais) fracassos que nos permitem melhorar a nossa intervenção no terreno?
Esta sessão pretende acolher contributos teóricos e pesquisas etnográficas que explorem, em toda a sua multiplicidade, as articulações entre o conhecimento antropológico e a saúde mental numa perspetiva crítica, decolonial e atenta às desigualdades e vulnerabilidades em que as pessoas estão inscritas. Serão bem-vindas comunicações que abram o espaço para debatermos múltiplos caminhos terapêuticos e os seus atores de tratamento; saúde mental global crítica; sofrimento mental e percursos migratórios.
In person Panel
“What is now proved was once only imagined.” William Blake, except from Proverbs of Hell, The Marriage of Heaven and Hell
Could technoscience and imagination be regarded as two distinct realms of human experience? Anthropologists and STS scholars have highlighted the close relationship and interaction between scientific methodologies and imagination in producing technoscientific knowledge.
This panel addresses the role of imagination in technoscience by documenting how scientists, engineers, physicians, and other professionals negotiate technical control with inventive and disruptive elements, such as fantasy, intuition and random thoughts. It aims to document and reflect on the dynamic interplay between imagination and the functional, replicable, and explainable notions in technoscience and how their interaction contributes to scientific production. The panel seeks contributions that examine how imagination shapes experiments, laboratories, and technoscientific practices, transforming "black boxes" into "resonance boxes", which in Latour and Stengers terms, amplifies technoscientific futures beyond the modern ones. From the perspective of STS anthropology (but not limited to it), we invite proposals that investigate how concepts of functionality, replicability, and explainability interact with experiences that scientific reasoning cannot fully encompass. How does imagination participate in technoscientific practice and methodology? What other futures become possible when challenging the opposition between the real and the imagined? How do scientists visualize, imagine and think beyond this dichotomy? What does an anthropology of imagination in technoscience look like? How does conducting anthropology within the politics of imagination expand and shape the discipline's practice and theory?
In person Panel
This panel on the anthropology of contemporary work intends to address affective labor in the context of global late capitalism, and the production of subjectivities and agency associated with it.
Affective labor is a type of immaterial work that implies interaction and human contact. (Hardt and Negri, 2005). It is embedded in networks of power and inequalities – of age, class, gender, etc. - and anthropology is a privileged field of research to analyze and make sense of this. Capitalism tries to extract value from this kind of labor defined by Arlie Hochschild (2012) in her work with flight attendants as ‘the management of feeling to create a publicly observable facial and bodily display”. Emotions are crossed by and come across micropolitics (Lutz and Lughod, 1990) that rule our lives, our societies and cultures, and are present everywhere in everyday interactions and at work.
The value struggles in late capitalism try to dignify affective labor, reversing the injustices felt by the dispossessed. What kind of agency - in the sense of distributive capacity and outcome of relational and negotiated processes under unequal living conditions (Matos, 2023) - can workers have and produce?
We are looking for all kinds of ethnographies or anthropological projects about contemporary labor, often precarious, including reflections on the following topics:
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Taking care of children, of elderly people and affective labor;
Race and affective labor;
Healthcare professionals and affective labor;
Service sector professionals and affective labor;
Women and affective labor;
Remote work, the blurring of boundaries between work and family life;
Affective labor among new types of jobs: empathy in digital platforms, call centers, at home, in all types of digital and in-person tasks.
…among other kinds of roamings in late capitalism.
References:
Hochschild, A. (2012). The managed heart: commercialization of human feeling. Berkeley: University of California Press.
Lutz, C. A., and Abu-Lughod, L. (eds.). (1990). Language and the politics of emotion. Cambridge: Cambridge University Press.
Hardt, M. and Negri, A. (2005). Empire. Harvard: Harvard University Press.
Matos, P. (2023). “Distributed agency: Care, human needs, and distributive struggles in Portugal”. Critique of Anthropology, Vol. 0(0) 1–15.
In person Panel
The new geological era (Holocene), also named Anthropocene/Capitalocene, is characterised by unprecedented changes on a global scale that threaten the ecosystems that support life on earth. Today, the greatest challenges to ecosystems occur in the realm of understanding both that these changes impact people and regions differently and that the cause is a destructive hegemonic political and social system that shapes visions, narratives and behaviours with deep colonial roots. Besides, many human-and more than human communities around the world have ancestral knowledge and practices to live, to avoid the end of the world and the western world is urged not to follow their colonial way of ruling the planet. Historically, the attention paid to the relationship between humans and other animals has challenged the traditional definitions of the intellectual division of labour in the humanities, social sciences and natural sciences. The erosion of the human exceptionalism paradigm (HEP), based on dichotomies of the so-called ‘Western world’ (an expression used by Descola & Pálsson), have been replaced by avant-garde, intersectional, and multi-species approaches, a more ecocentric anthropology able to encompasses ecosystems where post-humanism is now the dominant paradigm. Entanglements, points that constantly connect and disconnect, that interact and where every being influences another are spread in this co-shared and co-constructed world. Humans (and other fauna) and flora establish affiliative relationships that are permanently reconfigured and blurring the boundaries between humans and non-humans.
This panel is dedicated to anthropologists and researchers who seek to focus on socio-ecological interactions and dynamics that participate in this network of complex relationships, in different ecosystems that made their own way via the new ontological turn (but see Ingold or Escobar). We propose to bring together anthropological contributions around deforestation, mining and biodiversity loss, conflictual experience between wild animals and local communities, reports of multi-species ethnographies in these different contexts (rural, urban, ‘domestic’ or industrial such as slaughter lines in the farming industry considering practices of care, co-operation, conflict and exploration. The collaborative work among scientists, local people, animal rights activists and environmental activists including their controversies is another topic, as well as the ethical implications of diets and clothing, among other numerous possible entanglements.
In person Panel
Care practices have significant relations to people's existence and social reproduction. Caregiving involves a complex interaction between stakeholders in various scenarios (domestic, institutional, and community-based). Indeed, care is provided through a changing constellation of resources across families, the State, the market and civil society, all of which comprise the institutional structure of social care. Similarly, care is structured not only by gender but also by age, class, and ethnic/national origin. The traditional care options have been between domestic care and residential facilities. Institutionalization in a residential care home is an option that is usually reserved for worsening situations of dependence. Ageing in one's own home is an aspiration, but this often takes place in housing and neighborhoods that are not adapted to the needs of the ageing, accelerating their vulnerable processes. In addition, territorial disparities (urban-rural areas) also account for inequalities in the access of care.
Our panel is oriented towards identifying the elements that can give rise to alternative formulas for social care, which make it possible to shift the central role played by families and women, favoring the dignification of paid and unpaid care. To understand the experiences in new care environments that try to foster new forms of articulation between social agents and their care surroundings (cohousing, care ecosystems, communities, etc.). We are interested in contributions that, based on ethnographic work and theoretical reflection, analyze innovative formulas in the articulation of long-term care providers, identifying their scope and limitations when subverting territorial, social and gender inequalities.
In person Panel
Na antropologia existe um vasto e diverso trabalho sobre as migrações e as relações transnacionais, como também sobre o espaço doméstico e a casa propriamente dito. Com este painel pretende-se desenvolver uma perspetiva sobre a migração através da habitação ou vice-versa, pois interessa-nos a intersecção ou sobreposição das temáticas habitacionais e de deslocamento. Esferas aparentemente antagónicas, o individuo móvel e a casa imóvel, influenciam as possibilidades de mobilidade como também de fixação. Com uma diversidade de trajetórias migratórias, nacionais e internacionais, circulares ou de retorno, qual é o papel do espaço habitado e qual significado que têm nos projetos de vida? Convidamos a apresentar propostas que se posicionam neste cruzamento, tendo questões como:
- cruzamento entre trajetórias migratórias internas e internacionais e as trajetórias residenciais;
- onde viver depois do regresso forçado ou voluntário;
- circulação entre casas e lugares;
- papel da casa nas diferentes modalidades de migrações de retorno;
- coliving forçado ou voluntário problemas e virtualidades;
- construir a casa com as próprias mãos cá e lá;
- quando o provisório se torna definitivo;
- associativismo migrante e de moradores;
- migração forçada e (pós-)realojamento;
- segregação sócio-espacial, segmentação do trabalho e da habitação;
- direito à habitação, ao lugar e à cidade.
In person Panel
O painel pretende realizar uma discussão em torno de trabalhos etnográficos que investigam a inserção e a presença das religiões afro-brasileiras no espaço público, abordando as situações de conflito ligadas à discriminação, especialmente no que tange às questões de raça e gênero. Daremos enfoque especial às inovações surgidas em resposta às demandas de gênero, bem como às transformações rituais e deslocamentos decorrentes de questões ambientais e da ocupação crescente do espaço urbano. Essas dinâmicas revelam como os praticantes das religiões afro-brasileiras enfrentam desafios contemporâneos e lidam com as mudanças e os conflitos de modo diferenciado em seus contextos socioculturais.
Outro eixo se concentra em etnografias que exploram as expressões culturais e religiosas, examinando como essas práticas interagem com temas de saúde, sofrimento e dor, além das diferentes formas de registro e preservação da memória e do patrimônio. Valorizamos, ainda, a troca de saberes entre os povos de terreiro — consideradas comunidades tradicionais — e seu papel na construção de uma memória coletiva que resguarda e transmite conhecimentos ancestrais.
Nosso objetivo é ampliar a compreensão das relações entre África, Brasil e Portugal, especialmente no que se refere aos processos de identidade que conectam esses espaços. O Brasil, em particular, desempenha um papel central na transnacionalização das religiões de matriz afro, impactando tanto o campo religioso quanto o político. Esse fenômeno reflete a atuação conjunta de sacerdotes e sacerdotisas, pesquisadores, gestores de patrimônio e militantes, cujas ações asseguram a continuidade e expansão dessas práticas em uma rede internacional de trocas culturais e religiosas, que têm se adaptado e resistido diante de novos desafios contemporâneos.
In person Panel
O presente painel aborda a temática de pertencimentos e identificações de migrantes, a partir das situações apresentadas sobre a cultura em movimento numa abordagem multidisciplinar, característica cara ao saber antropológico. A construção de etnografias das múltiplas maneiras de pertencimentos e identificações requer diálogos de diversos saberes. As identificações forjadas nos processos de deslocamentos humanos historicamente demarcam fronteiras e sociabilidades diversas. Estudar os mapas traçados por essa população a partir das histórias orais pode revelar saberes que possibilitam reflexões sobre o significado dos processos de construção das relações sociais contemporâneas. Portanto, busca- se entender as noções de pertencimentos e identificações mesmo para uma pessoa ou grupos vivendo em espaços diferentes dos seus locais de origem ou em processo de deslocamento e estabelecimento em seus novos destinos. Como recurso para a construção das trilhas etnográficas a história oral é sem dúvida um método que possibilita a construção de narrativas com riqueza de subjetividades e singularidades que nos permitem um olhar mais próximo da história do Outro e de suas identidades múltiplas. Da mesma forma, nos permite compreender novas práticas culturais oriundas das experiências de alteridades proporcionadas pelos entrelaçamentos de modos de vida locais com práticas, costumes e tradições das pessoas que adentram por fronteiras tanto locais, quanto nacionais e transnacionais, tecendo dessa forma um interessante e instigante universo de possibilidades para a pesquisa científica sobre dinâmicas culturais da atualidade.
In person Panel
Num tempo marcado por novos paradigmas em torno da mobilidade, este painel propõe um diálogo entre turismo e migrações para pensar o modo com os trânsitos turísticos pós-coloniais entre os países de língua oficial portuguesa participam na sua imaginação e reconfiguração.
Uma parte considerável das migrações contemporâneas são marcadas por trânsitos e relações coloniais, a que não são alheias a proximidade linguística, inteligibilidade cultural e estrutural, trocas económicas. Também o turismo moderno herda relações estruturais, trânsitos e representações coloniais, sendo ainda hoje pensado como forma de imperialismo.
Pensar estas expressões intrincadas de mobilidade contemporânea permite-nos questionar a continuidade e contestação, a negociação e atualização de um imaginário colonial e seus legados materiais e ideológicos num tempo pós-colonial. Neste quadro, procura-se uma discussão sobre experiências de nostalgia imperial e colonial, turismo de raízes e diáspora, de saudade e retorno, bem como outras mobilidades marcadas por diferentes relações entre trabalho e lazer. Pretende-se, porém, escapar a uma qualquer objetificação do espaço lusófono, desdobrando a sua configuração para além das fronteiras do antigo império, nas relações plurais que simultaneamente as tornaram porosas e ‘imagináveis’, da persistência do mito lusotropicalista aos fluxos transnacionais globais, sem esquecer a construção pós-colonial da nação portuguesa.
Este painel acolhe discussões que complexifiquem os debates sobre os encontros, as experiências turísticas, a indústria e a economia política do turismo a partir dos trânsitos pós-coloniais entre países do antigo império colonial português. Sem esgotar os temas possíveis, procura-se interrogar: Que fluxos, agentes e motivações desenham os mapas e itinerários deste turismo pós-colonial? Como os seus encontros turísticos, relações sociais e de poder participam na negociação, reprodução ou reconfiguração de ontologias coloniais, nomeadamente nas suas configurações de género, classe e raça? Que recursos culturais materiais e imateriais são mobilizados ou contestados na construção do espaço pós-colonial como uma geografia cultural? Como dialogam com formas organizadas de lazer, turismo ou consumo, e qual o papel dos media, do marketing, ou das artes na sua promoção?
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